Enquanto o custo de produção cai, os preços dos combustíveis aumentam

Vivemos um momento delicado na Petrobrás, afinal de contas está difícil convencer a população de que os preços praticados nas bombas e nas revendas fazem sentido. A mando do deus Mercado, a estatal adota uma política de preços que não tem lastro na economia real, aquela praticada no plano terreno, sem sabores e dessabores de especuladores que vivem como parasitas em bolsas de valores e de futuros. Falo daquela economia em que preços são formados por uma operação simples: custos mais um lucro (“normal”), com uma variação dentre o quanto as pessoas demandam e ofertam produtos dentro de um mercado, estabelecido no tempo e no espaço (mas não numa ficção global).

Já tratamos em diversos textos sobre a subida de preços da gasolina, do diesel e do GLP. Neste abordaremos um outro aspecto, os custos da estatal para extrair e refinar seus derivados, e como isto vem totalmente na contramão da subida absurda dos preços dos derivados de petróleo.

O primeiro custo que chamamos atenção é o da extração do petróleo. A descoberta do pré-sal e a sua atual exploração comercial está permitindo uma queda nos custos de extração da Petrobrás, o chamado “lifting cost”. Os custos de produção no pré-sal são 65% menores do que a extração em terra, águas rasas, águas profundas e ultra profundas. Como o volume de óleo do pré-sal vem aumentando exponencialmente, o custo total de extração vem caindo no país. Como nos últimos anos a Petrobrás não publica mais seu custo de extração em reais, multiplicamos o seu custo pelo dólar médio de venda, todos estes dados apresentados nos resultados financeiros da empresa. No ano de 2020, a Petrobrás teve um custo de extração de R$17,94 menor do que a média dos últimos 16 anos, e só em 2009 a estatal teve um custo de extração inferior ao atual.

Gráfico 1 – Custo de extração de petróleo por barril em reais de dezembro de 2020

Outro custo importante a ser analisado é o de refino. Publicado trimestralmente pela Petrobrás, o “custo de refino” em 2020 também ficou muito abaixo da média história, também tendo apenas um ano (2014) com um custo mais baixo do que o de 2020. Com o custo 15% abaixo da série histórica, também tivemos o aumento da participação de óleo nacional na carga processada pelas refinarias da estatal, o que faz com que os efeitos do câmbio diminuam.

Gráfico 2 – Custo de refino por barril em reais de dezembro de 2020

Agora façamos um último exercício, somemos o custo de extrair petróleo e de refinar esse óleo gerando gasolina, diesel, gás de cozinha, dentro outros. Como podemos ver, 2020 é o ano com o segundo menor custo para produzir combustíveis e gás de cozinha na Petrobrás, ao menos desde 2005. Ou ainda, um custo 20% inferior ao à média destes últimos 16 anos.

Gráfico 3 – Custos de extração mais os custos de refino por barril da Petrobrás em reais de dezembro de 2020

Se produzir gasolina, diesel e GLP no Brasil está mais barato, por que temos que pagar mais caro por estes produtos? Por que na maior crise econômica da história deste país, temos que pagar o preço da gasolina que não víamos desde a primeira metade da década de 2000? Vejamos se o deus Mercado, através de seus vários “empregados”, nos convencerão.

 *Eric Gil Dantas, economista do Ibeps é doutor em Ciência Política

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