"Eu me despeço para permanecer com vocês": morre o gigante da literatura brasileira

A última sexta-feira (14/01) amanheceu mais triste e fria, o Brasil perde, aos 95 anos, o gigante da literatura brasileira, poeta, escritor, jornalista e tradutor Thiago de Mello. A Federação Nacional dos Petroleiros (FNP) lamenta a sua morte e presta condolências aos amigos e parentes!

A causa de sua morte ainda não foi divulgada. De acordo com a Folha de S. Paulo, familiares informaram que ele partiu dormindo. A vasta obra de Thiago de Mello já foi traduzida para cerca de 30 idiomas.

Thiago vivia há décadas em Barreirinhas, no Amazonas, em uma casa-palafita projetada por Lúcio Costa, um dos criadores de Brasília. Além de toda a obra, Thiago se celebrizou internacionalmente por “Faz escuro mas eu canto”, trecho de seu poema “Madrugada camponesa”, transcrito abaixo.

Mello, conhecido como o “poeta da floresta” por sua defesa da Amazônia, também foi alvo de diversas ameaças de morte após denunciar as atividades ilegais da madeireira holandesa EcoBrasil Holanda-Andirá na região, em 2017.

Por sua luta contra a ditadura militar, Thiago foi preso por cerca de um mês e meio. Em 1965 participou de um protesto no Rio de Janeiro feito por intelectuais e artistas, em frente ao hotel Glória. Na ocasião, ele foi um dos detidos que ficaram conhecidos como os “oito da Glória”. Entre eles, estavam Carlos Heitor Cony, Antonio Callado e Glauber Rocha. Em 1969, o poeta partiu para o exílio. Viveu na Argentina, em Portugal e no Chile.  

Com a morte de Thiago de Mello o Brasil perde mais um de seus grandes artistas. Extraordinário intelectual, que com características e estilo próprios, foi único e universal. Perdemos um admirável cronista do Brasil e da Amazônia.

“Como quem reparte pão, como quem reparte estrelas, como quem reparte flores, eu reparto meu canto de amor. Com uma estrofe apenas, eu me despeço – para permanecer com vocês. Me despeço para permanecer”. 

Leia o poema Madrugada Camponesa, de Thiago de Mello.

Madrugada camponesa,

faz escuro ainda no chão,

mas é preciso plantar.

A noite já foi mais noite,

a manhã já vai chegar.

Não vale mais a canção

feita de medo e arremedo

para enganar solidão.

Agora vale a verdade

cantada simples e sempre,

agora vale a alegria

que se constrói dia a dia

feita de canto e de pão.

Breve há de ser (sinto no ar)

tempo de trigo maduro.

Vai ser tempo de ceifar.

Já se levantam prodígios,

chuva azul no milharal,

estala em flor o feijão,

um leite novo minando

no meu longe seringal.

Já é quase tempo de amor.

Colho um sol que arde no chão,

lavro a luz dentro da cana,

minha alma no seu pendão.

Madrugada camponesa.

Faz escuro (já nem tanto),

vale a pena trabalhar.

Faz escuro mas eu canto

porque a manhã vai chegar.

 

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