IPCA-15 recorde e brent a 80 dólares: sobreviveremos ao PPI?

O PPI aprofunda problemas sociais em um país em crise, mas o governo Bolsonaro e a sua base no Congresso parecem não enxergar uma saída de verdade.

O IBGE publicou há alguns dias o resultado para o IPCA-15 de setembro, um tipo de prévia da inflação para o mês. A pesquisa mostrou que, mais uma vez, batemos recorde de inflação: "trata-se do maior resultado para o mês de setembro desde o início do Plano Real, em 1994, quando ficou em 1,63%". Como podemos ver no Gráfico 1, com os dados disponíveis, que temos um patamar muito mais elevado do que todos os resultados para o mês de setembro deste século.

Gráfico 1 – IPCA-15 para o mês de setembro por ano (%)

Fonte: IPEAData
 

O maior “impacto” veio do setor de transportes, que respondeu por 0,46 p.p. do total de 1,14% de inflação do mês: “O resultado do grupo Transportes (2,22%) foi influenciado pela alta dos combustíveis (3%), acima da registrada no mês anterior (2,02%). A gasolina subiu 2,85% e acumula 39,05% nos últimos 12 meses. Os demais combustíveis também apresentaram altas: etanol (4,55%), gás veicular (2,04%) e óleo diesel (1,63%)”. Já os combustíveis domésticos (principalmente GLP) apresentaram inflação de 2,3%. Aliado a isto ainda temos a inflação da energia elétrica (3,61% no mês) e dos alimentos (1,27%, aves e ovos chegando a 3,88% de aumento).

Novamente a Petrobrás foi a principal responsável individual (combustíveis – transporte e combustíveis – doméstico) por um recorde de inflação no país. E esta tendência continuará.
Ontem, 28, o brent tocou pela primeira vez desde outubro de 2018 o patamar de 80 dólares o barril (importante lembrar que o câmbio àquela época era de R$ 3,75, e não os atuais R$ 5,43). Mesmo hoje, 29, o brent estando próximo dos 78 dólares, isto quer dizer que desde o início do mês de setembro temos 4 dólares a mais no preço do barril, o que já vem encarecendo os combustíveis e continuará a fazê-lo.

Também ontem, os preços dos contratos futuros de gás natural fecharam a US$ 5,841 por milhão de unidades térmicas (BTU), alta de 2,4% e maior nível desde fevereiro de 2014. O gás natural é responsável por um quarto da produção de GLP no país, além do gás encanado residencial e industrial. Além disto, a Petrobrás começará hoje mesmo a cobrar 9% a mais nas refinarias pelo diesel.

Há 16 meses seguidos é registrado aumento do preço médio nacional do GLP, enquanto o GNV sofre reajuste contínuo há 12 meses e faz cinco meses que a gasolina e o diesel sobem consecutivamente. Isto ainda porque, segundo um dos grandes defensores do PPI, o Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE), ainda há uma defasagem interna em relação aos preços internacionais de 44 centavos para o diesel e 43 centavos para a gasolina. Isto é, o PPI ainda daria margem para que o preço fosse ainda mais elevado do que hoje. E com a tendência de alta do brent isto se acentuará, em meio a uma das maiores crises econômicas e uma possível estagflação no nosso país.

Não sabemos se os brasileiros sobreviverão à continuidade da política de preços da Petrobrás. Hoje temos uma taxa de desemprego de 14,1%, 8,9% de pessoas abaixo da linha da extrema pobreza e nenhuma perspectiva no horizonte. É urgente retomar a Petrobrás para os brasileiros, e tirar a nossa estatal das mãos de acionistas privados de visão de curto prazo e dos concorrentes importadores de combustíveis.

*Eric Gil Dantas é economista do Ibeps e doutor em Ciência Política.

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