A Petrobrás anunciou na quinat-feira (30/7) um prejuízo líquido de R$ 2,713 bilhões, valor menor do que o do trimestre anterior, quando o prejuízo foi de R$ 48,5 bilhões (cifra, como já mostramos aqui, explicada em grande parte pela dedução dos valores de ativos, o impairment). Com isto, a Petrobrás já acumula um prejuízo de R$ 51,2 bilhões nos seis primeiros meses de 2020.
O prejuízo na estatal ocorre, naturalmente, por conta da crise econômica mundial e da crise do setor petrolífero em particular. Apesar de a queda do preço barril de petróleo se iniciar antes mesmo da pandemia, entre o 1º e o 2º trimestre deste ano houve uma queda de 41,9% no preço médio do barril. Se compararmos com o mesmo trimestre do ano passado, a queda foi de 57,6%. Além do preço do barril em si, também houve diminuição no volume e nos preços internos dos produtos refinados. Do primeiro trimestre para o segundo, o preço médio dos refinados diminuiu em 31%.
No entanto, os problemas são menores do que parecem, usando como parâmetro o contexto da maior crise econômica da história recente do capitalismo (ou mesmo os resultados negativos da Shell e Exxon Mobil, publicadas ontem e hoje). O chamado Ebitda ajustado (que são os lucros antes de deduzirmos os juros, impostos, depreciações e amortizações, um bom parâmetro de geração de receitas pela empresa) foi de R$ 24,99 bilhões, 33,4% a menos do que no trimestre imediatamente anterior, uma queda menor do que a do preço do barril. Isto ocorreu por conta da depreciação do real, fazendo a queda do preço do barril em moeda nacional ser de 33% neste trimestre (ao invés de 41,9%).
Dentre os derivados, o segmento que teve a menor queda foi o de GLP, por conta do aumento da demanda por este gás decorrente do isolamento social, com uma subtração de apenas 5,7% se comparado ao trimestre anterior – o total de diminuição de receitas advindas de derivados em geral foi de 33,8%. Infelizmente parte disto foi suprido com aumento das importações. Como mostram os dados da ANP, houve um aumento de 15,3% das importações totais de GLP nos meses de abril e maio no país. O que poderia ter servido como um pequeno suspiro para a indústria petrolífera brasileira foi jogado para fora.
Outro elemento do comércio internacional que chama a atenção nestes novos resultados da Petrobrás é o aumento da dependência do mercado chinês. A China é a única grande potência que já está em um momento de recuperação econômica pós-pandemia – o Banco Mundial só projeta crescimento positivo em 2020 no caso chinês. As exportações de petróleo cru para este país em relação ao total de todas as exportações saltaram de 48% no primeiro trimestre para 87% no segundo trimestre.
As exportações para a China foram um alívio financeiro já no primeiro trimestre. E isto nada mais é do que frutos colhidos do pré-sal. Além da qualidade em si, com baixo teor de enxofre, tornando-se adequado para a produção de combustível de navegação dentro das novas especificações contra a poluição da IMO, o custo da extração de petróleo naquelas águas continua a diminuir. Segundo a própria estatal, o valor gasto por barril (considerando também o afretamento – aluguel das plataformas) chegou a US$ 4,17, uma queda de 30,8% se comparado ao mesmo trimestre do ano anterior.
A estatal também chama a atenção para a continuidade das privatizações. Ignorando totalmente a queda da atividade econômica mundial e a desvalorização de todos os ativos do setor, a Petrobrás já lançou 20 processos de vendas só neste ano – ativos como a PBio, Bloco Exploratório Tayrona (Colômbia), Gaspetro, NTS e Campos de Águas Rasas (SP, RS e RJ), além das “joias da coroa”, que são as refinarias, com a RLAM, cuja privatização está mais avançada.
Por fim, o documento chama a atenção para algumas questões relativas aos trabalhadores da empresa. Segundo Roberto Castello Branco, o teletrabalho está sendo positivo e que “para o futuro planejamos manter cerca de 50% do nosso pessoal administrativo em home office”[1], e “como consequência da redução da força de trabalho e adoção do home office, planejamos reduzir a ocupação dos atuais 17 edifícios administrativos – 23 em 2018 – para apenas 8 no 1T21, o que implica em cortes de custos de até US$ 30 milhões em 2021”. Neste trecho, Castello Branco está somando tanto o home office quanto as demissões de 10 mil empregados (“mais de 10 mil empregados se registraram no programa de demissão voluntária, cerca de 22% da nossa força de trabalho, e irão se desligar da companhia majoritariamente nesse ano e o restante em 2021”).
Assim como as privatizações estão aceleradas na pandemia, as demissões também estão. E, como sempre, a diminuição da Petrobrás – tanto em termos de valor quanto de funcionários – é comemorada em mais um release endereçado aos “acionistas” – os minoritários, já que Castello Branco não parece se interessar muito pelo acionista majoritário, o povo brasileiro.
Fonte: Sindipetro-SJC