Há tempos estamos denunciando a auto-sabotagem das refinarias da Petrobras patrocinadas pelas últimas gestões da estatal. Estamos deixando de utilizar as refinarias do país para produção de derivados de petróleo e aumentando suas importações, como podemos ver no Gráfico 1.
Este movimento de aumento das importações e subtração da produção interna vem com a diminuição da chamada utilização da capacidade instalada (UCI) das refinarias da Petrobras. Enquanto que em 2014 utilizávamos 98% da UCI, no primeiro semestre deste ano foi utilizado 75%, chegando a 60% em abril por conta da pandemia. Isto é, é uma política consciente da Petrobras para deixar de produzir derivados em solo nacional e importa-los.
Mas isto tem consequências, para além da própria auto-sabotagem interna da empresa. A partir de simulações feitas por Matriz Insumo-Produto, professores da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ) e do Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-graduação e
Pesquisa de Engenharia (Coppe/UFRJ)[1] chegaram à conclusão de que a utilização de 95% da UCI das refinarias da Petrobras (abaixo de anos como 2013 e 2014) seria o suficiente para acrescentar R$ 3,5 bilhões ao PIB brasileiro, além de diminuir 2,04% na inflação setorial de transporte, 0,54% na inflação de alimentos e bebidas e 0,62% na inflação de produtos agropecuários.
Vivemos justamente em um momento de crise econômica, com uma queda do PIB para 2020 de provavelmente 5,02% (Boletim Focus), e uma inflação dos 12 últimos meses de 11,79% nos alimentos, segundo o IPCA de setembro. Como podemos abrir mão destes instrumentos de política econômica, que faria o brasileiro ganhar mais dinheiro e pagar menos por sua alimentação? Como podemos querer vender nossas refinarias para que meia dúzia de grandes empresários decidam o nosso futuro?
*Economista do Instituto Brasileiro de Estudos Políticos e Sociais (Ibeps), é doutor em Ciência Política (UFPR) e pesquisador-visitante (FGV-SP).
Fonte: Sindipetro-SJC