Como se não bastasse ?esquecer? da greve que havia marcado para o dia 16 de novembro e indicar a aceitação de uma proposta que concede aumento real zero no salário básico, a FUP agora tenta limpar com mais mentiras o seu papel governista durante toda a campanha reivindicatória deste ano.
Sem qualquer constrangimento, a FUP atribui à sua ?incrível? capacidade de negociação a retirada de cláusulas que confrontavam diretamente os direitos e a saúde dos trabalhadores. Pior ainda, faz o jogo da empresa ao minimizar um fato grave, atribuindo a ?ajustes redacionais? a tentativa da companhia de prejudicar a categoria. Tais cláusulas somente foram retiradas após a FNP e seus sindicatos denunciarem amplamente às suas bases a estratégia da Petrobrás. As denúncias foram multiplicadas pelos trabalhadores e, pressionada, a empresa foi forçada a recuar. Esta é a realidade.
Mas sob a peculiar lógica da FUP, devemos chegar à delirante conclusão de que as tentativas de institucionalizar o Banco de Horas, de estabelecer limites de exposição para o Benzeno e de modificar a cláusula da RMNR da Transpetro, que extinguiria as ações judiciais vitoriosas dos trabalhadores contra a empresa, são simples e despretensiosos erros de redação da companhia, que não exigem qualquer denúncia do movimento sindical. É justamente isso o que a FUP afirma em seu ?esclarecimento sobre ajustes redacionais?, quando diz que tudo isso, oras, faz parte de um processo natural.
É de um cinismo sem precedentes afirmar que a inclusão do conceito quantitativo no lugar do qualitativo para o benzeno se deve a um deslize redacional ou inserção equivocada de qualquer termo dúbio. A empresa, claramente, tentou impor aos trabalhadores uma derrota histórica, contrariando inclusive o Acordo Nacional do Bezeno, do qual ela é signatária.
Desde o início do ano, a empresa vem investindo contra a legislação brasileira. À revelia da Comissão Nacional do Benzeno, a Petrobrás vem apresentando com muita boa vontade a ?necessidade? de revisar a legislação sobre o Benzeno, usando como referência mudanças ocorridas na legislação alemã que, curiosamente, vai ao encontro do ?erro redacional? da empresa que determinaria, através do ACT, um limite de exposição ?aceitável?.
ACEITAÇÃO A TOQUE DE CAIXA
A FUP diz que somente após garantir os ajustes redacionais, com uma ?criteriosa análise técnica e jurídica das redações?, é que o acordo foi submetido às assembléias pelos sindicatos. Tal afirmação carece de veracidade e não é difícil demonstrar o porquê.
Os sindicatos filiados à FUP iniciaram suas assembleias no dia 26 de novembro, um sábado, dois dias antes da Transpetro reconhecer os erros presentes em sua proposta. Foi apenas no dia 28 de novembro, terça-feira, em negociação com a FNP, que os representantes da subsidiária reconheceram a necessidade de realizar os ?ajustes?. E foi somente no dia 30 de novembro, última quarta-feira, que a Transpetro enviou sua proposta devidamente corrigida. Ou seja, na ânsia de indicar a aceitação da proposta, a FUP enganou os trabalhadores das suas bases colocando em votação uma proposta repleta de pegadinhas, ou melhor, para quem gosta de eufemismos, recheada de ?erros redacionais?.
Mesmo se trabalharmos com a remota hipótese de que não seja uma atitude vergonhosa da FUP, e sim uma interpretação ingênua da realidade dos seus dirigentes e assessores jurídicos, ela agiu, no mínimo, de forma irresponsável e desastrosa ao fechar às quatro paredes da mesa de negociação assuntos que afetam diretamente a vida dos trabalhadores petroleiros.
Pelo visto, a sedução por reuniões de cúpula tem cegado os dirigentes fupistas para um dos papéis fundamentais de qualquer direção sindical: denunciar e combater as ofensivas da empresa contra os trabalhadores. Não adianta correr contra o tempo. É tarde demais para esconder ou maquiar as traições que vem cometendo contra os trabalhadores.