?A vaca tussiu? ? esta era a palavra de ordem mais repetida ontem (28), de norte a sul, mostrando que o brasileiro costuma manter o bom humor, mesmo quando fala sério. A afirmativa rebate a presidenta Dilma Rousseff que rompeu com sua promessa de campanha logo num dos primeiros atos de governo, ao rebaixar, por medidas provisórias, direitos trabalhistas e previdenciários.
Em mais uma promessa descumprida, a edição das Medidas Provisórias 664 e 665 foi anunciada sem consulta ou discussão com o movimento sindical. Na hora do voto, a presidenta cansou de afirmar que desta vez governaria em permanente diálogo com os movimentos sindicais e sociais. A MP 664 trata de mudanças nas regras de pensão e auxílio doença; a 665 trata de mudanças nas regras do seguro-desemprego, abono e período de defeso do pescador. Ambas, obviamente, reduzindo direitos.
O ato unificado foi batizado como Dia Nacional de Lutas contra a Perda de Direitos e em Defesa do Emprego. Os rumos da política econômica, seguindo a cartilha do adversário de Dilma nas eleições, a crise provocada para demolir e privatizar a Petrobrás, com o consequente desemprego em massa (como já se verifica em várias áreas do Estado do Rio de Janeiro), foram temas que permearam os discursos de dirigentes dos sindicatos e centrais.
As manifestações foram programadas para acontecer em 18 estados, capitais e outras cidades. Foram organizadas pela Central Única dos Trabalhadores (CUT), Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB), Central Geral dos Trabalhadores do Brasil (CGTB), União Geral dos Trabalhadores (UGT), Força Sindical e CSP-Conlutas.
O próximo passo será a Marcha da Classe Trabalhadora, em 26 de fevereiro, quando será entregue uma pauta de reivindicações ao executivo federal, aos governos estaduais e ao empresariado. Entre elas, o fim do fator previdenciário; redução da jornada para 40 horas semanais; fim do Projeto de Lei nº 4330/04, que amplia as terceirizações; correção da tabela do Imposto de Renda; mais investimentos em saúde, educação e segurança.
SÃO PAULO
A maior manifestação, na manhã do dia 28, aconteceu em São Paulo, reunindo mais de cinco mil pessoas na Avenida Paulista. O secretário-geral da CUT, Sérgio Nobre, destacou a defesa da Petrobrás como um desafio para os trabalhadores: ” Os culpados por desvios de verba devem ser punidos exemplarmente, mas a Petrobras nasceu da resistência popular e se tornou um dos nossos maiores patrimônios. Temos que defendê-la. A investigação judicial propõe que empresas (empreiteiras) citadas no processo, mesmo que não haja nenhuma comprovação de corrupção e desvios, não possam concorrer aos editais. Isso, objetivamente, significa que as empresas brasileiras não vão poder participar. Para nós, isso é golpe” ? declarou.
RIO DE JANEIRO
Os organizadores calculam que cerca de 600 pessoas participaram dos protestos na Central do Brasil. Diretor do Sindipetro-RJ e, na CUT-RJ, de Comunicação, o petroleiro Edison Munhoz reforçou a necessidade de preservar a Petrobrás, como sendo uma das prioridades para os trabalhadores. Disse que a crise extrapola as fronteiras nacionais:
?Todas as empresas de petróleo estão afetadas. Estamos diante de uma crise provocada pelos grandes consumidores e importadores ? Estados Unidos, União Européia ? que visa implodir a economia do Irã e da Rússia, mas também repercute no Brasil. Isso em relação ao baixo valor do barril de petróleo. Aqui temos o agravante dos escândalos de corrupção na mídia. A Petrobrás teve que puxar o freio de mão e reavaliar todos os contratos. Uma das consequências para o trabalhador é o que está acontecendo no Comperj: demissões e obras paradas. O Sindipetro-RJ está estudando uma forma juridicamente válida de abrir uma conta solidariedade em apoio aos trabalhadores demitidos?.
OUTROS ESTADOS
RIO GRANDE DO SUL – Em um dia marcado por atos e mobilizações da classe trabalhadora em todo o Brasil, foi realizada uma vigília em frente à Superintendência Regional do Trabalho e Emprego, centro de Porto Alegre. Centenas de pessoas participaram do Dia Nacional de Luta.
MATO GROSSO ? O ato foi em frente ao prédio da Previdência Social, seguindo pela Avenida Central, em Cuiabá. O presidente da CUT/MT João Luiz Dourado, disse que os
trabalhadores não irão permitir redução de direitos em nome do ajuste fiscal.
PARÁ ? A manifestação foi no Boulevard Castilho França, Belém, em repúdio às Medidas Provisórias 664 e 665 e, também, contra a anunciada abertura de capital da Caixa Econômica, medidas do governo federal. O ato foi, ainda, em repúdio às demissões de servidores e privatizações desencadeadas pelo governo do Pará, em especial na área de saúde.
PERNAMBUCO, BAHIA, MINAS GERAIS ? Em todos esses estados a preocupação com o destino da Petrobrás foi citada. Os sindicalistas vincularam a campanha contra a empresa a intenções privatistas, associadas à queda das ações. Ressaltaram, também, a crescente demissão de trabalhadores da cadeia produtiva de fornecedores. A decisão é de apoiar uma campanha em favor da empresa e do seu caráter estatal.
Fonte: Agência Petroleira de Notícias