Ao apresentar o balanço auditado de 2014, o presidente da Petrobrás, Aldemir Bendine, afirmou que há um ?sentimento de vergonha? na companhia devido ao escândalo de corrupção investigado pela Operação Lava-Jato. Ele ainda pediu desculpas, falando em nome de nós, trabalhadores da Petrobrás.
Bendine não fala em nosso nome. Essa culpa, de ter contribuído com os prejuízos da empresa não é nossa. Fomos nós os responsáveis por batemos recordes de refino, recorde de geração de energia e recorde de exploração de petróleo. É isso que diz o resultado do balanço.
Portanto, nós, petroleiros, não podemos sentir vergonha, como declara o presidente da empresa. Nós temos é que erguer nossas cabeças e colocar para fora toda nossa indignação. Indignação, por exemplo, com o fato de ter a PLR prejudicada por conta de um rombo financeiro que não é de nossa responsabilidade.
Resultado do balanço
A empresa teve lucro bruto de R$ 80 bilhões. O lucro operacional foi de R$ 60 bilhões, com um aumento de 15% comparado ao resultado anterior. Entretanto, houve um prejuízo de R$ 21,6 bilhões, com uma perda total de R$ 51,2 bilhões. Destes, R$ 6,19 bilhões foram ocasionados por pagamento de propinas e R$ 44,6 bilhões gerados por má gestão, principalmente relativos às decisões de construção das refinarias que representam 70% desse valor.
Então estamos diante de uma situação onde houve lucro operacional, mas teve prejuízo causado por roubo, desinvestimento, terceirizações e etc. Ou seja, o prejuízo foi causado pelas relações promíscuas entre a alta administração da Petrobrás, o governo e as empresas privadas.
Eles de fato têm motivo para vergonha. O governo de Dilma (PT) tem que se sentir envergonhado por indicar corruptos. As empreiteiras, os gestores do alto escalão e os políticos também, por ferirem a economia do país e a imagem do Brasil.
PLR regrada
Devido ao Acordo Coletivo assinado nas negociações passadas, defendido pela FUP e aceito pela maioria da categoria, a PLR está condicionada ao regramento. Em nota a Petrobrás já divulgou que vai garantir o pagamento, conforme consta no texto do ACT. ?O valor a ser pago individualmente de PLR, caso a empresa não tenha lucro e todas as metas sejam alcançadas, será de metade da remuneração do empregado acrescido de metade do menor valor pago da PLR no exercício anterior?.
Com essas regras, a categoria sai ainda mais prejudicada. Além disso, reforça uma realidade extremamente injusta: a desigualdade que existe no pagamento de remunerações variáveis quando se compara o que ganham os gestores e os trabalhadores de nível médio. Os responsáveis pelo prejuízo saem privilegiados e quem trabalhou duro e pegou no pesado é punido.
Estatizar é preciso
Bendine diz ainda que a dívida da Petrobrás corresponde a uma soma de cinco anos dos resultados da empresa. Em uma matéria no O Globo, eles já falam em vender ativos da área do pré-sal para reduzir o nível de endividamento.
Ou seja, é privatização a rodo em prol do pagamento dessa dívida. Vendem os ativos e entregam o que arrecada direto nas mãos dos bancos. É uma política declarada de desmonte da maior estatal brasileira.
A única saída é se a categoria petroleira lutar e se mover contra essa política, em defesa de uma Petrobrás 100% estatal, controlada pelos trabalhadores. Para isso Aldemir Bendine e toda sua diretoria privatizante têm que cair fora. Os trabalhadores que devem defi nir, através de eleições diretas, toda a administração, composta por funcionários de carreira, com mandatos revogáveis.
Fonte: Jornal Ouro Negro, do Sindipetro-Al/SE, nº 732