Em uma greve de apenas três dias 78 operários e operárias terceirizados da área da desparafinação na Petrobrás em Carmópolis-SE saíram vitoriosos. A empresa atual responsável pelo contrato, a Brasitest, que há muito tempo desprezava as reivindicações dos trabalhadores, teve que ceder e fechar um acordo.
São trabalhadores de um setor estratégico na indústria do Petróleo. Garantem a perfuração e exploração do petróleo no campo através da manutenção, limpeza e inspeção de materiais de operação. Sem os trabalhadores que executam essa tarefa, logo as sondas param de funcionar e a produção é afetada.
A adesão à greve foi de 100% da mão de obra. A união dos operários arrepiou de medo os patrões. Quem estava na luta, arrepiou de emoção. A empresa dizia que não ia negociar por causa da crise e preferia entregar o contrato. ?Pode abrir mão?, respondiam os trabalhadores. ?Melhor do que pagar a miséria que eles querem pagar. Se o problema é a crise, por que eles pegaram o contrato? Pra tirar o prejuízo nas costas da gente??, questionavam.
E todo lucro que a empresa arrecadou durante todos esses anos? ?Falam da crise, mas o faturamento no final do mês eles sempre recebem?, concluem os trabalhadores. Em média são R$ 400 mil reais mensais que uma contratada ganha.
?Com essa greve nós aprendemos que o trabalhador tem que se unir e não baixar a cabeça para esses donos de empresa. Se a gente baixar a cabeça eles vão nos maltratar até nosso último dia de vida. A gente tem que reivindicar pelos nossos direitos o quanto antes, assim eles não dão o calote. A gente precisou acordar para a realidade e não deixar isso seguir a diante. Chega, não vamos sofrer mais, queremos nossos direitos?, desabafa um operário.
Empresa não queria negociar
Essa luta começou quando os trabalhadores procuraram o Sindipetro AL/SE em busca de uma representação sindical. A partir daí a direção do sindicato começou a reunir com os trabalhadores, juntos elaboraram uma proposta de pauta e apresentaram para a empresa.
A Brasitest não quis reconhecer a representação do Sindipetro AL/SE. Os mensageiros da empresa argumentavam, ?o nosso sindicato é outro?. Diziam que só fechavam acordo com o sindicato dos metalúrgicos, que não deu a cara nunca, nem antes, nem na greve. Mas, não tinha para onde fugir, eles tiveram que sentar com a direção do Sindipetro e negociar.
?Mesmo que a empresa não queira reconhecer nossa representação, nosso sindicato é hoje quem representa os trabalhadores, porque é isso que eles querem e porque eles são petroleiros?, declara Gilvani Alves, diretora do Sindipetro AL/SE.
Não é patrão quem determina a representação sindical dos trabalhadores. Por isso nem adianta o patrão querer cantar de galo e dizer quem é que manda. São os próprios trabalhadores quem determinam suas representações, assim como são os próprios trabalhadores quem garantem toda produção, sem necessidade de patrão.
É justamente essa a compreensão dos bravos lutadores e lutadoras que construíram essa greve. Quando perguntava, ?vocês precisam de patrão para garantir a produção??, a resposta era automática, ?não, patrão só serve pra dar a chibatada?.
Pendências trabalhistas e desvalorização
Alguns desses trabalhadores já têm mais de 20 anos pulando de uma gata terceirizada para outra. Com uma jornada de oito horas por dia, eles estão expostos aos gases perigosos que chegam junto com a sujeira da tubulação, às altas temperaturas e outros riscos. O trabalho que já é duro fica ainda mais difícil quando a empresa oferece condições de trabalho precárias, não cumpre com os encargos trabalhistas e desvaloriza os profissionais.
A Brasitest estava há sete meses sem depositar o Fundo de Garantia (FGTS). O último depósito foi em janeiro deste ano, referente a parcela de novembro. Se esse valor consta nas despesas do contrato e o desconto vinha todo mês no contracheque do trabalhador, para onde ia esse dinheiro? Diante dessa irregularidade, a Petrobrás não podia repassar as faturas. Será que o gestor do contrato não fiscalizou ou preferiu fazer vista grosa?
Salários defasados
Quanto ao salário, profissionais qualificados têm ganhado apenas R$ 1.400 nesse contrato. Outra parte, a maioria, presta serviço de um profissional qualificado, mas recebe apenas R$ 780,00 como auxiliar. Isso até o mês de abril, quando foi reajustado pelo clima de mobilização que já havia.
?Tem gente há 20 anos cumprindo a tarefa de um profissional e continua ganhando como ajudante. Tem pessoal na inspeção eletromagnética, lixadores, desempenadores, almoxarifado e técnicos administrativos que ganham essa mixaria. São quase todas funções de risco. Qualquer vacilo custa a vida?.
Quando os operários exigiam receber o piso do profissional e a igualdade de salário, a Brasitest e o gerente de contrato da Petrobrás exigiam um curso de qualificação. É a empresa quem não quer que os trabalhadores se qualifiquem, porque ela não quer corrigir as distorções na carteira de trabalho, onde o registro não condiz com a prática. ?Tem um colega que a empresa levou daqui para fazer um serviço em São Paulo porque lá não tinha quem fizesse. Agora para aumentar o salário não pode??, denunciam.
Outras reivindicações
?O único benefício que a gente tinha era uma cesta básica de R$ 150,00 no cartão alimentação?, conta um trabalhador. ?Nós não tínhamos a folga de campo que os trabalhadores próprios da Petrobrás e de muitas terceirizadas têm direito. A gente também precisa de auxílio creche. Muitos de nós temos filhos e precisamos pagar uma creche por causa do trabalho. Se a gente tira R$ 300,00 do salário não sobra nada. Tem aluguel, têm as contas que estão mais caras, a comida, os remédios… sobra o quê no final do mês? A gente também precisa de fardamento novo e mais equipamentos de segurança que tenham qualidade. Tem luvas que você põe na mão agora e quando é de tarde ela arranca o couro?.
Conquistas
Com a greve os trabalhadores conquistaram 1% de ganho real, além do repasse da inflação de 8,5% que já tinha sido reajustado. A cesta básica por R$ 220. A licença maternidade por 6 meses. Folga de campo nos moldes dos petroleiros próprios. Auxílio creche para as trabalhadoras. Isonomia salarial com base em um estudo a ser realizado. Pagamento de 70% nas horas extras no meio da semana e de 100% nos sábados, domingos e feriados. Não vai ter desconto dos dias parados e a empresa garantiu não haver retaliação por conta da greve.
Essa foi a proposta final que a empresa apresentou ao Sindipetro AL/SE. Não conquistaram tudo que queriam, mas os trabalhadores apreciaram e aprovaram a proposta em assembleia, decidiram suspender o movimento e retomar as atividades a partir desta sexta, 03/07.
Antes eles firmaram um compromisso de classe. Continuar mobilizados, organizados e o mais importante: Mexeu com um, mexeu com todos! Demitiu um, parou! Todos entenderam que a partir desse momento a luta e a união devem ser ainda maiores.
?Daqui para frente, quando o trabalhador se sentir lesado, é greve. E o trabalhador pode contar com o Sindipetro AL/SE, porque a gente não se rende?, disse Miudinho, diretor do sindicato.
Não vamos pagar pela crise
Essas pequenas conquistas foram apenas um primeiro grande passo. Os governos e os patrões pretendem arrochar ainda mais a vida dos trabalhadores. Na reunião de negociação, o representante da Brasitest confirmou que a Petrobrás tem exigido uma redução de 20% em cada contrato.
Isso faz parte do novo plano de desinvestimento da Petrobrás, que pretende cortar US$ 76,3 bilhões de dólares dos investimentos previstos em cinco anos, junto com a venda de ativos, isto é, o desmonte e a privatização do patrimônio da Petrobrás. Em Sergipe o que se diz é que cortou tudo, não há mais investimento. O que há é paralisação do que está em andamento e redução no que já existe.
Na reunião com a empresa ficou claro onde eles pretendem fazer esses cortes. É na carne do trabalhador. Os governos e os patrões vão promover desemprego e miséria para manter a riqueza e os privilégios deles.
Palavra de um operário, petroleiro, terceirizado
?Dizem que a crise no Brasil está enorme, mas só tem afetado os trabalhadores e a gente pobre. Por que não afetou o empresário? Justamente porque o empresário chega e diz: ?vou reduzir seu salário?, ?demitir trabalhador?, ?aumentar a sobrecarga?. Você vai ao comércio comprar e o preço subiu. A gente sofre e eles estão lá de boa. Quando nós trabalhadores pararmos de vez, vai afetar eles e muito. Se a gente fizer uma greve nacional eles vão ter que se ligar?.