Estrangular o turno de zero hora é rebaixar salários e promover demissões. Esse é o plano de desinvestimento e venda de ativos que o governo aponta como saída para a crise na Petrobrás
Nesta sexta-feira, 10/07, os trabalhadores petroleiros das Fábricas de Fertilizantes Nitrogenado (Fafen) de Sergipe e da Bahia decidiram paralisar por 24 horas. Trabalhadores próprios e terceirizados aderiram ao movimento. O ato é uma unidade entre os sindicatos de petroleiros dos dois estados contra a retirada do turno de zero hora do setor de faturamento e carregamento.
?A gerência de Gás e Energia quer aplicar nas Fafen?s um tal ?regime administrativo deslocado? no setor de faturamento e carregamento. Eles excluem o turno de zero hora e criam um administrativo de 7h às 16h40 e outro, ?o deslocado?, que começa próximo às 14h e vai até umas 23h30. Estão impondo isso de qualquer jeito, sem formalizar nada para os sindicatos e sem um horário correto definido?, explica Stoessel Chagas, o Toeta, diretor do Sindipetro AL/SE.
Segundo o Sindipetro o modelo foi copiado do setor privado, a exemplo da empresa de fertilizantes de Araucária/PR, e só favorece o lucro. ?Ao estrangular o turno, acumula serviços, consequentemente aumenta a sobrecarga. Para os trabalhadores próprios, que serão deslocados para o regime administrativo, reduz aproximadamente 58% do salário, com a perda do HRA (Hora repouso Alimentação) e do Adicional Noturno. Para os terceirizados só resta desemprego?.
Toeta diz que essa medida, além de prejudicar os trabalhadores, ela descumpre as cláusulas 104 e 106 do Acordo Coletivo de Trabalho (ACT) da Petrobrás e favorece a privatização. ?A imposição dessa medida pela gerência de Gás e Energia da Petrobrás tem tudo a ver com o Plano de Negócios e Gestão que pretende cortar US$ 76,2 bilhões de dólares em investimentos e arrecadar US$ 15,1 bilhões com a entrega de ativos?.
Privatização passo a passo
O eixo principal dessa questão, segundo o Sindipetro, é o desinvestimento e a venda de ativos. ?Existe uma campanha de desmoralização e desvalorização da Petrobrás, com intuito de depenar e privatizar o patrimônio da empresa e do povo brasileiro. A lógica utilizada aqui é simples. Nenhuma empresa tem interesse de comprar uma estatal onde tenha um grande efetivo de trabalhadores. Para privatizar tem que reduzir o efetivo. A retirada do turno é um dos primeiros sinais dessa privatização. Nós já assistimos esse filme?, conclui.
Fazer unidade e construir a greve
O Sindipetro AL/SE já se manifestou totalmente contra essa mudança e aponta como saída para a categoria continuar construindo unidade e luta. ?Começamos junto com o sindicato da Bahia e queremos levar essa luta juntos até o fim. Hoje tem negociação com a gerência das Fafens às 14h aqui e lá. Temos também exigido uma reunião conjunta com o RH da Gerência de Gás e Energia na terça-feira, 14/07, para tratar desse assunto. Nós ainda pretendemos manter juntos a exigência de abono desse dia de paralisação. Se não houve negociação para resolver essa situação até terça, é greve na próxima quarta-feira (15)?.
O exemplo dessa unidade entre os dois sindicatos, o da Bahia vinculado a Federação única dos Petroleiros (FUP), e o de Sergipe filiado à Federação Nacional dos Petroleiros (FNP) tem um caráter importante para a categoria. ?É necessário avançar nacionalmente em uma unidade entre as bases dos 17 sindicatos de petroleiros para construir uma greve geral na categoria contra a venda de ativos de Dilma/Bendine e contra o Projeto de Lei do Senado de José Serra, que propõe retirar a participação de 30% da Petrobrás, bem como seu papel como operadora única do pré-sal?.
Só com independência diante das empresas e dos governos que o Sindipetro acredita ser possível realizar uma mobilização forte, unificada, capaz de reverter o maior ataque já desferido contra a Petrobrás desde a quebra do monopólio estatal do Petróleo ?Precisamos resgatar a defesa de uma Petrobrás 100% Estatal, sob controle dos trabalhadores e a serviço do povo brasileiro. Vamos à luta, a Fafen e a Petrobrás são nossas?!