Desafio apontado no debate é superar as opressões para garantir maior incorporação das mulheres, negros e negras e LGBTs na luta sindical
O machismo, o racismo e a LGBTfobia não fazem parte da ideologia da classe trabalhadora, pois só servem para dividir a classe e enfraquecer a luta dos trabalhadores contra a exploração capitalista. Essa foi a conclusão do debate acumulado pelo painel de Combate às opressões, realizado na tarde desta sexta-feira, 17, no 9º Congresso Nacional da FNP.
Composta por Silvia Ferraro, do Movimento Mulheres em Luta (CSP-Conlutas); Anderson ?Mancuso? da Base do Litoral Paulista; Júlio Condaque, do Movimento Quilombo, Raça e Classe (CSP-Conlutas); Camila Marins, do Sindicato dos Jornalistas do Rio de Janeiro e por Áurea Beart, da direção do Sindipetro-RJ, a mesa apontou um desafio ao movimento sindical petroleiro: conseguir superar as opressões para garantir maior incorporação das mulheres, negros e negras e LGBTs na luta sindical.
?Nós precisamos tornar o ambiente sindical menos hostil aos setores oprimidos, pois mulheres, negros e LGBTs são as maiores vítimas da precarização do trabalho, por isso devem ser vanguarda na luta contra os cortes de direitos e contra a exploração capitalista?, afirmou Silvia Ferraro. Silvia também defendeu a necessidade de aprovar no congresso uma pauta específica sobre as demandas dos setores oprimidos, com objetivo de dar maior visibilidade ao tema e romper com a sensação de que esse assunto é secundário. Para a feminista, não basta que a pauta das opressões não seja instrumentalizada pela direita, também não pode ser apêndice da esquerda.
?É necessário transversalizar a pauta do combate às opressões em todos os espaços possíveis e desenvolver políticas de acolhimento das mulheres nos sindicatos, pois se hoje as mulheres são minorias nos espaços políticos é por conta da maior exploração do seu trabalho. Não pensamos, por exemplo, nas mães, criando creches nas entidades e nos fóruns de reunião e decisão? disse Camila Marins, chamando atenção para o pequeno número de mulheres participando do congresso. Em sua explanação, a jornalista também criticou o terrível papel desempenhado pela grande mídia na construção social de estereótipos que desmoralizam mulheres, LGBTs e negros.
Além de também destacar o quanto é hostil o meio sindical aos LGBTs, Anderson Mancuso argumentou que o avanço do conservadorismo no Brasil é uma arma utilizada pela direita para atacar a classe trabalhadora. ?O fenômeno do ascenso conservador no Brasil tem a ver com a luta de classes, pois a direita instrumentaliza o conservadorismo para atacar mais profundamente a classe trabalhadora. Na verdade, o que acontece é um acirramento da luta de classes camuflado nesse moralismo? disse.
Mancuso também expressou sua felicidade em ver uma mesa composta por representações dos movimentos feminista, LGBT e de negros e negras para abordar o tema no congresso da FNP.
Áurea Beart falou que um passo importante ao movimento sindical petroleiro é garantir a proporcionalidade da representação feminina nas direções das entidades. ?20% da força de trabalho da Petrobrás é de mulheres, essa proporcionalidade deve ser refletida na composição das diretorias das entidades, por enquanto ainda estamos débil nesse aspecto? criticou Áurea, afirmando, ainda, que é preciso corrigir práticas retrógradas dentro da Federação e dos sindicatos.
Julho Condaque desmistificou o mito da igualdade racial no Brasil e destacou que a maior parcela dos terceirizados em condições precárias de trabalho na Petrobrás hoje são negros e mulheres. ?Hoje a maior parte dos mais de 260 mil terceirizados da Petrobrás são negros e mulheres? afirmou. De acordo com ele essa é a mesma característica de composição dos mais de 12 milhões de terceirizados que existem no país, ou seja, razão que torna esse setor fundamental ao fortalecimento da luta.
Júlio Condaque também falou sobre a cooptação do movimento negro na era PT. ?Nossas lutas foram adiadas por conta da cooptação da maioria das organizações pelo PT, nos governos de Lula e Dilma. O movimento negro precisa voltar a fortalecer sua auto-organização e estar presente nas lutas sindicais? destacou.
Uma petroleira da base do Sindipetro AL/SE fez uma fala emocionada sobre as dificuldades que enfrenta em seu dia-a-dia por ser mãe de uma criança com necessidades especiais e sensibilizou os presentes sobre a importância de inserir na pauta de reivindicações a exigência de que a Petrobrás tenha uma política social em benefício das trabalhadoras que vivam a mesma situação que ela.
Por fim, os debatedores aproveitaram a oportunidade para reforçar a necessidade de criação de secretárias de combate às opressões nos sindicatos e na FNP, só assim será possível caminhar rumo à superação da pouca participação dos setores oprimidos na atividade sindical petroleira. Além disso, a maior participação de mulheres, LGBTs e negros no movimento terá como resultado a potencialização do combate coerente às práticas opressoras nos espaços sindicais.
Equipe de Comunicação | 9º Congresso Nacional da FNP
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