Painel sobre saúde e segurança no trabalho analisa acidentes em refinaria de petróleo

Palestrante defendeu a participação dos trabalhadores nos indicadores de segurança

O painel sobre Saúde e Segurança contou com palestra da mestranda da USP Sandra Beltran. Para esse trabalho, foram estudados casos de acidentes em refinarias no Brasil, no Texas e no Golfo do México. A pesquisa da mestranda nasceu da necessidade de verificar porque continuam ocorrendo acidentes fatais na indústria de petróleo, inclusive nos últimos anos. A pesquisa qualitativa é uma pesquisa factual sobre os aspectos que podem causar acidentes. O objetivo do trabalho e da palestra é contribuir com os companheiros que participam de comissões de apuração de acidentes na indústria de petróleo.

Corriqueiramente, a Petrobras aponta como razão dos acidentes falhas diversas, indisciplina operacional, a avaliação de risco inadequada, atitude imprópria, falha no planejamento e análise de risco.

Contudo, Sandra aponta que ?os procedimentos operacionais são verticais, vindo da sede para as unidades do Sistema Petrobras. Isso não é implantado por quem opera as atividades e conhece os riscos de cada uma delas?. Não é implantada e muito menos compartilhada adequadamente entre a refinaria, o empreendimento e a contratada, o que, de acordo com Sandra, caracteriza o ?Período de Incubação de Evento?.

A pesquisa da mestranda aponta que, nos procedimentos habituais de segurança nas refinarias, a maneira de prescrever o trabalho é diferente de sua realização real e a análise de risco, a liberação e supervisão de trabalhos estão sujeitos a gerencias despreparadas que seguem recomendações verticais de quem não vive as demandas operacionais na Petrobras.

A categoria sabe bem que o operador tem que participar das operações de risco, mas nem sempre chega a ir a campo fazer análise de risco porque tem um número de PT´s (Permissões de Trabalho) para liberar e não tem tempo para supervisionar e acompanhar esses trabalhos.

A palestrante relatou que já havia participado de treinamento de NR 20 e PT na Petrobras, mas o treinador não soubera responder suas dúvidas, principalmente, sobre LIBRA (um procedimento de liberação de trabalhos). Quem soube responder foram os próprios trabalhadores que participavam do treinamento e conheciam as atividades na prática.

A pesquisa da mestranda aponta que, depois de acidentes, a empresa coloca vários Multigás (equipamento de proteção). No entanto, os trabalhadores têm que participar da discussão dos limites das taxas referenciais, como: TOR (Taxa de Ocorrência Relevante). Segundo Sandra, ?essa discussão é muito importante porque os gestores tomam decisões em cima dos indicadores. Aí quando acontece um acidente (para a empresa) o problema é só com ele (o trabalhador)?.

A empresa quando apura acidentes chega a insinuar, extraoficialmente, claro, que os acidentes ocorrem por uma questão cultural do jeitinho brasileiro, do não cumprimento de todas as normais formais. Contudo, os acidentes na indústria estão ocorrendo no mundo todo. Isso é resultado da natureza do setor, da falta de experiência gerencial sobre os trabalhos diários. A palestrante citou uma frase dita por um trabalhador durante seu trabalho de mestrado. ?Enquanto os procedimentos forem estabelecidos por alguém sentado na sede os acidentes continuarão a ocorrer.? É a constatação da base!

O dirigente sindical Wesley Bastos, do Sindipetro/SJC, ressaltou que ?esse trabalho nasceu por meio das denúncias ao MPT (Ministério Público do Trabalho) de óbitos nas refinarias. Nunca um acidente foi investigado a fundo. A refinaria examina as causa que estão iluminadas pelo poste, não vai a fundo às causas de acidentes?.

O presidente do Sindipetro/SJC, José Ademir, apontou o excesso de horas extras e dobras como outro ponto que contribui para a ocorrência de acidentes na Petrobras. Isso e a pressão por produção, a impossibilidade de travar os trabalhos até que se resolvam as circunstâncias que podem vitimar trabalhadores e outros pontos, como a terceirização. Neste sentido, uma denúncia do Sindipetro/SJC ao MPT gerou uma multa de R$ 500 milhões à Petrobras caso a empresa não acabasse com a prática de restrição a terceirizados, o que deixa os companheiros ainda mais preteridos na busca de treinamentos adequados do que os primeirizados.

Equipe de Comunicação | 9º Congresso Nacional da FNP

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