Há um ano, no dia 22 de fevereiro de 2015, o supervisor de operação elétrica Rodrigo Antônio de Oliveira morreu, em consequência do acidente ocorrido na Termoelétrica Barbosa Lima Sobrinho, em Seropédica, na Baixada Fluminense. O petroleiro, de 42 anos, teve mais de 60% do corpo queimado. Na próxima segunda, dia 22, os petroleiros realizam, às 6h30, um ato na porta da Barbosa Lima Sobrinho, para lembrar e protestar contra este e outros acidentes. O mais recente vitimou, no dia 31/1, o técnico de operações, Luiz Augusto Cabral, de 55 anos. Há pouco tempo, em uma entrevista coletiva, o presidente da Petrobrás, Aldemir Bendine, disse que realizava um sonho ao anunciar que o plano de desinvestimento, incluindo a venda de ativos da empresa, vai continuar a todo vapor. Como a FNP já denunciou várias vezes, o que para Bendine é sonho, para petroleiros, petroleiras e suas famílias, significa pesadelo. O aumento dos acidentes e mortes nas unidades da Petrobrás, em vários estados, mostra como a FNP tem razão.
Ao realizar um procedimento de medição, um buraco se abriu, sob os pés de Luiz Cabral, no teto do tanque 7510, que continha asfaltado, a uma temperatura de 75 graus, na REDUC, seu corpo foi achado quase três dias depois. No dia 3 de fevereiro, uma manifestação unificada na porta da refinaria, com a participação da FNP (foto), criticou a precarização do trabalho na empresa, que vem gerando cada vez mais acidentes de trabalho (reproduzimos aqui trechos de alguns depoimentos dos que estiveram presentes). A triste realidade foi denunciada várias vezes: de 1995 até hoje, ocorreram 344 mortes (280 terceirizados e 64 efetivos). A Comissão Interna de Prevenção de Acidentes (CIPA) da REDUC, organizou uma comissão de investigação independente para apurar as causas do acidente. De acordo com o petroleiro Gustavo Costa, membro da comissão, a refinaria estava criando inúmeras dificuldades, negando liberação, acesso e documentos. No entanto, após inúmeras negociações e ameaças de denúncias, a situação mudou e a investigação prossegue.
Durante o enterro de Cabral, no dia 4/2, sua irmã, Cláudia Moraes, pediu que a memória de seu irmão não fosse esquecida. “Podia ser qualquer operador”, disse ela. O objetivo desse boletim especial da Federação Nacional dos Petroleiros, é cumprir nossa promessa a Cláudia: não esqueceremos! Nem Luiz Cabral, nem Rodrigo Antônio, nem qualquer petroleiro vítima do descaso, da precarização (ampliada com os planos de desinvestimentos) e da privatização da Petrobrás.
“Nossa principal bandeira é pela vida”
Emanuel Cancella, coordenador da FNP e do Sindipetro-RJ
A gente sabe que quando acontece um acidente fatal, vários outros acidentes menores já aconteceram. Não podemos deixar de lembrar a morte do petroleiro da Barbosa Lima Sobrinho, onde um dreno deu um banho de água fervendo no companheiro. Sem ambulância, sem helicóptero da empresa, o Rodrigo Antônio foi levado ao hospital no carro do gerente. Como é que pode isso? São mortes terríveis. Nas reuniões que se seguiram exigimos a permanência de ambulância, de helicópteros para atender a esse tipo de acidente porque o companheiro podia ter sido salvo, se socorrido da forma mais indicada. São os gerentes que impõem as metas, que dão as chicotadas, que forçam os petroleiros a trabalharem em condições precárias e perigosas como vemos nesse terrível caso aqui na REDUC. É por isso que é sempre o peão que vai virar estatística dos acidentes. Nossa principal bandeira é pela vida, para que deixemos de enviar coroas de flores às famílias dos nossos companheiros. A insegurança na Petrobrás está cada vez maior, principalmente em função do plano de desinvestimento. A ameaça de privatização também cria um clima muito ruim para nós. A empresa precisa voltar ao patamar de outubro de 2014 porque mais empregos ficam garantidos e a insegurança diminui entre os trabalhadores. Nem Cabral, nem Rodrigo precisavam morrer. São tragédias anunciadas que podiam ter sido evitadas. (Emanuel Cancella, coordenador da FNP e do Sindipetro-RJ)
“Teremos uma comissão independente para investigar o acidente”
Marcelo Bernardo, cipista da REDUC
Como cipista, vim aqui na segunda-feira (1/2), para tentar ajudar, mas tivemos muitas dificuldades, tanto a Cipa, como o sindicato, para ter acesso ao local e a qualquer informação. Toda hora chegava um gerente, um vigilante. Infelizmente, sofri uma comunicação de que não posso vir à Refinaria fora do meu horário de trabalho. Temos de impedir isso com todas as nossas forças porque sabemos que a empresa já tenta responsabilizar o próprio Cabral pelo acidente e não vamos deixar isso acontecer. Aqui nós somos vítimas, seja os trabalhadores de HA, mas, em especial, os companheiros que estão de frente para os equipamentos, todos somos vítimas. Vítimas do sucateamento de nossas unidades. Na CIPA, aprovamos algo inédito aqui, ou seja, uma comissão independente que vai apurar com rigor o que aconteceu. Nós sustentamos essa empresa, mas estamos sofrendo pleno processo de sucatear para privatizar. Precismos nos unir e impedir que isso aconteça. Companheiro Cabral presente! (Marcelo Bernardo, cipista da REDUC)
“Qualquer um de nós pode ser a próxima vítima”
André Bucaresky, diretor do Sindipetro-RJ
Não podemos tratar a pessoa que morreu como um número, como a a empresa faz. Luiz Augusto Cabral era uma pessoa. Ele tinha família, amigos, desejos e sonhos, como todos nós. Assim como ano passado, o acidente que aconteceu, no dia 22 de fevereiro, na Usina Termoelétrica Barbosa Lima Sobrinho, na Baixada Fluminense, onde morreu o petroleiro Rodrigo Antônio de Oliveira. Participei da Comissão de Investigação desse acidente e, um mês depois, soube que a mãe do Rodrigo Antônio ainda não sabia como seu filho havia morrido. Quem foi à casa da mãe do petroleiro explicar como ele havia morrido não foi a Petrobrás, fui eu. Os acidentes são precedidos por relatos de sucateamento, de contingentes abaixo do necessário. Tudo isso revela a política de privatização e desmonte de nossa empresa. O governo FHC já preparava a Petrobrás para a privatização. Infelizmente, o governo Dilma não interrompeu essa política. Bendine e Dilma já venderam a Gaspetro, já anunciaram a venda da Transpetro e, agora, querem juntar REDUC, COMPERJ e REGAP e procuram um sócio para esse holding. Ou seja, vem mais companheiros mortos por aí. Para impedir isso, temos de lutar. (André Bucaresky, diretor do Sindipetro-RJ)
“Dia 22/2 faremos um protesto para lembrar a morte do companheiro Rodrigo”
Igor Mendes, diretor do Sindipetro-RJ
Quero lembrar aqui, a morte do companheiro Rodrigo Antônio de Oliveira, que morreu queimado, há quase um ano, na Barbosa Lima Sobrinho. Já vínhamos denunciando há muito tempo o sucateamento das questões locais de segurança e a sobrecarga de trabalho a que esses trabalhadores estavam e continuam submetidos. O que assistimos, ao logo desse ano, eu projeto que, infelizmente, será o que também veremos aqui. Fizemos todas as medidas. Entramos no Judiciário, mas o Judiciário tem muito pouco de justiça e não podemos deixar que as ações se limitem ao Judiciário. Quem tem a força de mudar somos nós. Nem falo de instituições falo de nós, trabalhadores. Nós é que deixamos as gerências cooptarem nossos conhecimentos, como é feito no setor médico e no serviço social, por exemplo, que são grandes geradores de provas contra nós mesmos. No caso do Cabral, quando abrirmos o processo, todas as possíveis teses para que a culpa recaia sobre ele, serão levantadas pela empresa e não vamos permitir. Os acidentes têm aumentado. No dia 22/2 faremos um protesto para lembrar a morte do companheiro Rodrigo Antônio Oliveira, em frente a Termoelétrica Barbosa Lima Sobrinho. Estarei lá e convido todos vocês, porque a unidade é fundamental. (Igor Mendes, diretor do Sindipetro-RJ)