Era o que repetia Paulo Luiz Jardim de Moraes, 80 anos, pai de Luiz Cabral, ao lado da mãe, Maria de Lourdes Cabral de Moraes, 77 anos, e da irmã de Cabral, Cláudia Moraes, enquanto consolavam e eram consolados, no dia 5/2, no enterro do petroleiro, morto no dia 31/1, na REDUC. Frederico Moraes, 24 anos, filho de Cabral, permaneceu ao lado do corpo do pai, na despedida que contou com a participação de dezenas de amigos, familiares, sindicalistas e diretores da Federação Nacional dos Petroleiros (FNP), no cemitério São João Batista.
A família, durante o velório, fazia questão de lembrar quem era Cabral “Alegre, gostava de praia, da natureza e de aproveitar a vida (como na foto que aqui publicamos, gentilmente enviada pela família). Era amado por todos nós. Morava no mesmo prédio que nossos pais, na Tijuca”, disse Cláudia Moraes, irmã do operador, que também lembrou as preocupações do irmão sobre a segurança na Petrobrás. “Meus pais comentavam que ele vivia preocupado com as condições de trabalho, com a falta de segurança. Se preocupava com os acidentes e repetia que, a qualquer momento, podia acontecer com ele ou com seus colegas mais próximos”, afirmou.
Amadorismo e descaso
A irmã de Cabral também criticou o que chamou de amadorismo da direção da Petrobrás, desde a comunicação do desaparecimento do petroleiro a família, até o resgate do corpo do interior do tanque, dois dias depois, e seu reconhecimento. “Ele esteve com meus pais naquele domingo, 31/1, antes que ele fosse para seu turno. Estava bem, tranquilo e alegre como sempre. No dia seguinte, meus pais me ligaram dizendo que uma assistente social estava na casa deles informando que Cabral desaparecera desde a noite anterior. Eles estavam nervosos e sem entender nada, não havia mais informações. Fui direto para casa”, diz Cláudia. O marido de Cláudia, Mucio Guedes, também é operador da REDUC, há 26 anos, o mesmo tempo que Cabral. Na segunda, dia 1/2 ele passou a acompanhar a drenagem do tanque que demorou muito em função do tamanho do tanque e a pequena vazão das bombas.
“A esta altura rezávamos para que o corpo fosse encontrado e que a família pudesse se despedir dele. Meu irmão foi retirado sem as digitais, mas a Petrobrás sequer pode antever que isso seria esperado, já que a temperatura do material no qual ele caiu era altíssima. Ele foi levado ao IML de Caxias e ainda foram buscar o histórico dentário dele na empresa para que pudéssemos reconhecer seu corpo. Além da assistente social que nos acompanhou não tivemos nada. A empresa não telefonou, não enviou uma carta de solidariedade, nada. Isso não pode ficar assim. Podia ser qualquer operador. A memória do meu irmão não pode ser esquecida e os acidentes precisam parar”, denunciou Cláudia.
Sindipetro-RJ e FNP homenageiam companheiro
Os diretores do Sindipetro-RJ, Francisco Soriano (foto) e Igor Mendes, acompanharam o velório e o enterro do petroleiro para dizer, mais uma vez, que a memória do petroleiro não será esquecida. “Um petroleiro morto nessas condições fere a todos nós. A precarização do trabalho tem levado os trabalhadores a uma vida de trabalho em sofrimento e, pelo que vemos, leva também a uma morte em sofrimento. Não podemos permitir que Cabral seja apenas mais um a engrossar estatísticas de acidentes da empresa. Cabral fez muito pela Petrobrás e, quando um petroleiro trabalha, ele ergue toda a sociedade. A Petrobrás deve a Cabral e a sua família. A sociedade brasileira também deve. O Sindipetro-RJ e a FNP vão cobrar, tenham certeza disso. Ao final de sua fala, Francisco Soriano, que também é membro do Conselho Fiscal da Federação Nacional dos Petroleiross (FNP) disse: “Companheiro Cabral: presente!”. A frase foi repetida várias vezes seguida por muitos aplausos.