Carta de renúncia foi encaminhada ao Conselho de Administração da empresa nesta segunda-feira (30/5). Novo presidente será Pedro Parente, ex-ministro do governo FHC.
O presidente da Petrobrás, Aldemir Bendine, encaminhou sua carta de renúncia ao Conselho de Administração da empresa nesta segunda-feira (30/5). A informação foi publicada inicialmente no site do jornal Valor Econômico e reproduzida por vários sites jornalísticos. A saída de Bendine já estava praticamente acertada depois que o presidente da República interino, Michel Temer, apresentou ao Conselho o nome do ex-ministro do governo FHC Pedro Parente para substituí-lo no comando da maior empresa do Brasil.
Aldemir Bendine, nomeado pela presidenta afastada Dilma Rousseff, ficou 1 ano e 3 meses no cargo. Como uma tentativa de resposta ao escândalos de corrupção que envolvem a Petrobrás, sua gestão foi marcada pela aceleração dos desinvestimentos e uma ampla reestruturação interna, o que provocou inúmeros protestos das entidades sindicais. A Federação Nacional dos Petroleiros (FNP) sempre criticou a gestão Bendine por suas ações para reduzir a atuação da Petrobrás na cadeia produtiva do petróleo e no setor energético como um todo, além de uma política de recursos humanos retrógrada.
Tudo indica que os problemas apontados pelo movimento sindical na gestão da Petrobrás só aumentarão. O escolhido pelo governo interino de Michel Temer é nada menos que um ex-ministro do governo neoliberal do FHC, que acabou com o monopólio estatal na exploração do petróleo brasileiro e quase vendeu a Petrobrás a “preço de banana” como a Vale e outras estatais. A direção da FNP se reunirá no Rio nesta quarta-feira (1/6), a troca de comando e a nova gestão da empresa serão discutidas pelos dirigentes sindicais.
Carta de renúncia
Confira a íntegra da carta de renúncia do presidente Aldemir Bendine:
?Caros colegas,
Gostaria de comunicar a vocês que apresentei hoje, ao Conselho de Administração, minha carta de renúncia ao posto de diretor-presidente da Petrobras. Tomei esta decisão para que os conselheiros possam conduzir as propostas de mudança na diretoria feitas pelo acionista controlador sem sobressaltos que possam prejudicar os interesses da companhia.
Deixo esta empresa com a enorme satisfação de ter podido participar da história da maior empresa do Brasil, que dá os primeiros passos para virar a página da maior crise do nosso mundo corporativo e voltar a ser orgulho de todos os brasileiros.
Cheguei aqui no momento de maior pessimismo com os rumos da companhia. Sem um balanço financeiro avalizado, corríamos o risco concreto da execução precoce das nossas dívidas.
Lidávamos ali com o muitos chamam de “tempestade perfeita”: uma conjuntura adversa em que problemas de natureza distinta se sobrepõem e se potencializam. Não bastasse a queda aguda nos preços do petróleo, fomos obrigados a enfrentar forte desvalorização do real frente ao dólar e lidar com as descobertas da Operação Lava Jato, que revelou um conjunto de crimes praticados contra a companhia, com a participação inclusive de ex-executivos da empresa.
Não havia dúvida de que os desafios eram enormes, mas o contato com a brilhante força de trabalho desta empresa me deixou cheio de confiança de que superaríamos todos. Hoje, quinze meses depois, são muitas as vitórias que podemos comemorar juntos.
Da ameaça de apagão financeiro, chegamos a um caixa robusto, superior a 100 bilhões de reais. Essa marca é resultado direto do corte nos investimentos e do enxugamento nos custos operacionais, que fizeram com que nossas despesas fossem menores que nossas receitas pela primeira vez desde 2008.
Em outra frente, redesenhamos a estrutura organizacional na busca de construir uma Petrobras mais leve e moderna, compatível com o momento atual que vive o setor de óleo e gás no mundo.
Todo o modelo decisório foi revisto, assegurando que as decisões estratégicas e a contratação de fornecedores sejam sempre colegiadas. Uma empresa em que os critérios técnicos guiem as decisões e em que seus executivos não ajam como senhores, mas como servidores dos interesses da empresa.
Não poderia deixar de manifestar minha gratidão e meu reconhecimento aos meus colegas da diretoria executiva, com quem dividi as decisões tomadas ao longo deste período. O profissionalismo, o talento e o amor de vocês pela Petrobras foi uma fonte permanente de estímulo e aprendizado.
Também agradeço aos conselheiros, que demonstraram compreensão clara dos obstáculos no caminho da Petrobras e se empenharam vigorosamente na busca de meios para superá-los.
Por fim, deixo meu agradecimento a todos os empregados e colaboradores da Petrobras, em todos os postos no Brasil e no exterior. Os desafios pela frente são enormes, mas não há time mais preparado, coeso e qualificado para enfrentá-los que vocês.
Um forte abraço deste petroleiro
Aldemir Bendine.”
*Com informações do site do jornal Valor Econômico.
Foto: Valter Campanato/Agência Brasil