8 de março, um dia de luta!

A origem

Homenagens para celebrar a sensibilidade da mulher, festas para comemorar o empoderamento feminino no mercado de trabalho, artigos e crônicas enaltecendo as mães como rainhas do lar. Hoje, esse é o tom aplicado em muitos eventos realizados para ?homenagear? o Dia Internacional da Mulher.

O que poucos sabem é que a origem do 8 de março remonta às manifestações de mulheres russas, em 1917, contra a miséria e pela retirada do país na Primeira Guerra Mundial. Na ocasião, mães, esposas e filhas de soldados russos foram às ruas exigir ?Pão e Paz?. Há quem acredite que a data é uma homenagem a 129 operárias mortas em um incêndio provocado pelo patrão, em 1857, nos EUA, mas pesquisadores passaram a questionar esta versão pela ausência de provas históricas. O fato é que em 1921 a data foi reafirmada na conferência de mulheres russas como uma homenagem às operárias têxteis que desencadearam a revolução de fevereiro e o fim do czarismo.

Cortina de fumaça
Não é preciso sair de casa para ser bombardeado por homenagens às mulheres nesta época do ano. Muitas empresas utilizam o espaço comercial das emissoras de televisão para enaltecer a suposta igualdade de direitos conquistada pelas mulheres e as ações que vêm sendo realizadas para garantir equidade de gênero.

Não podemos menosprezar a importância da inserção das mulheres no mercado, mas não podemos nos furtar de afirmar que, somada a esta conquista dos movimentos feministas, continuam sendo impostas às mulheres as ?tarefas da casa?. Obrigações que o Estado deveria assumir, como a construção de creches, restaurantes e lavanderias pública são jogadas nas costas das mulheres. Lavar roupa, cozinhar e deixar os filhos com os vizinhos ou parentes para trabalhar são tarefas, infelizmente, encaradas com naturalidade.

Com isso, além de trabalhar na rua, a mulher também trabalha em casa, sendo submetida a uma dupla jornada. Para piorar, mesmo tendo um grau de escolaridade maior que os homens, as mulheres ainda recebem salários inferiores, muitas vezes para exercer a mesma função. Isso sem citar o fato de que são as maiores vítimas de violência doméstica e da falta de investimentos em saúde. Segundo o Ministério da Saúde, a cada duas horas morre uma mulher por complicações na gravidez, no parto e no pós-parto.

Resgatar a origem combativa do Dia Internacional da Mulher é condição básica para fortalecer a luta contra a opressão, o machismo e a desigualdade.

A realidade das petroleiras
Fruto da pressão das mulheres petroleiras e dos sindicatos da FNP, a Petrobrás resolveu dar uma resposta à exigência do movimento sindical para a questão de gênero dentro da companhia. Durante as negociações de ACT, dedicamos uma cláusula de nossa pauta à necessidade de políticas específicas para as mulheres. A companhia respondeu à demanda inserindo no acordo um texto vazio e sem qualquer desdobramento prático. Esta é a realidade, realidade que não surpreende.

A Petrobrás comemora o crescimento no número de mulheres em seu quadro de empregados. Mas não diz, por exemplo, que elas ainda representam um setor minoritário nas unidades da companhia. Ao todo, são 8.296 mulheres, ou 14%. Também não diz que são elas as maiores vítimas de práticas de assédio moral e assédio sexual, a sua maioria cometida por homens que ocupam cargos gerenciais. O rigor aplicado nesses casos, em sua grande maioria, é tão ?implacável? quanto um sopro. Quando há punição ? e somente há punição quando os trabalhadores denunciam e o Sindicato dá o combate ? ela é colocada em prática através de uma transferência de unidade. Essa é a resposta da empresa para o machismo e a opressão.

Outros problemas enfrentados no dia a dia pelas mulheres petroleiras, e já denunciados pelo Sindipetro-LP, ainda persistem. Não é de hoje que denunciamos a ausência de vestiários e banheiros femininos, principalmente em áreas operacionais; a falta de uniformes adaptados às condições físicas das mulheres e para grávidas; o número reduzido de camarotes para as petroleiras embarcadas; e a existência não declarada, mas concreta, de um preconceito enraizado na consciência dos trabalhadores: a ideia de que a mulher, por ser do ?sexo frágil?, é incapaz de realizar atividades que teoricamente só os homens seriam capazes de fazer. E tal preconceito é alimentado pela empresa quando ela não toma nenhuma medida objetiva para reverter este quadro; quadro que gera, inclusive, diferenças salariais, pois muitos benefícios são concedidos por meio desta lógica machista apenas aos homens.

Terceirizadas como principal fonte de exploração

Se a realidade da mulher petroleira primeirizada tem como pano de fundo uma série de ataques, o que podemos dizer das petroleiras terceirizadas? Hoje, as mulheres estão localizadas principalmente em funções relacionadas a serviços ou cargos administrativos caraterizados por longas jornadas, baixos salários e um alto nível de exploração. O mesmo acontece na Petrobrás com as mulheres terceirizadas.

Essas trabalhadoras convivem com o risco iminente de demissões, frequentes calotes e rebaixamento de direitos. Plano de saúde, ajuda de custo para o pagamento de creche e demais serviços são benefícios que simplesmente não existem ou, quando existem, são retirados unilateralmente por serem ?privilégios?. As práticas de assédio moral e de assédio sexual neste setor da classe trabalhadora feminina é ainda maior, pois estão ainda mais vulneráveis com os frequentes ?cortes? na folha de pagamento.

Qualquer esperança depositada na intervenção da Petrobrás será em vão. A companhia não combate o machismo e a opressão praticada contra as petroleiras primeirizadas, não fará diferente com as petroleiras indiretas. Mais uma vez, a empresa assumirá uma postura demagógica e dirá que ?não podemos interferir na gestão e autonomia das empresas prestadoras de serviço?. Por isso, somente a unidade de todas as trabalhadoras e trabalhadores será capaz de fazer frente a esses ataques.

Com Graça Foster na presidência, o que muda?

Graça Foster assumiu, mês passado, o cargo mais importante da Petrobrás. Primeira presidente mulher da companhia, Foster discursou para uma plateia formada por um público majoritariamente masculino. Tal fato, aparentemente irrelevante, traz em si um significado simbólico: o fato da presidência estar nas mãos de uma mulher não significa, automaticamente, uma política de gênero mais eficaz.

Dois motivos servem para fundamentar essa conclusão. Em primeiro lugar, Foster já adiantou que sua gestão será uma continuidade da gestão de Gabrielli, cuja atuação nunca teve como prioridade a luta por igualdade de gênero; as petroleiras sabem da grande balela que é citar o aumento no número de mulheres na empresa como prova de uma política efetiva para as petroleiras. Em segundo lugar, a responsável por sua nomeação, Dilma Rousseff, que até hoje não realizou nenhuma mudança efetiva para as trabalhadoras.

Durante o I Encontro de Mulheres Petroleiras do Litoral Paulista, alguns dados foram cruciais para entender que não basta cargos importantes serem ocupados por mulheres. É preciso uma política efetiva. Nos últimos oito anos, o Governo Federal investiu menos de 3% em saúde, sendo que a OMS preconiza, pelo menos, 6%. Um projeto que alterava o teto de 5% para 7% foi vetado por FHC ? veto mantido por Lula e agora por Dilma. Por fim, em 2011, a Secretaria de Políticas Públicas para as Mulheres teve redução de 38,6% no seu orçamento, e a de Desigualdade Social teve seu orçamento reduzido em 50,7%.

Por isso, devemos exigir que Dilma atenda as demandas das trabalhadoras brasileiras e que Graça Foster, ao contrário do que afirmou em sua posse, não seja uma continuidade da gestão negligente de Gabrielli e coloque em prática as reivindicações e exigências das mulheres petroleiras.

Fonte: Imprensa Sindipetro-LP

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