“O PNG 2017/2021 da Petrobrás foi todo elaborado, não para contribuir com o desenvolvimento econômico do Brasil…”, afirma Claudio Costa Oliveira
* Por Claudio Costa Oliveira
O termo ?cara de pau? pode parecer um pouco pesado, mas, dentro de minhas limitações, não encontrei outro para retratar o que sinto sobre o que acontece hoje na Petrobrás.
Em sua página na internet, Fatos & Dados da última sexta-feira (02/12), a Petrobrás mais uma vez procura ?tapar o sol com peneira?.
Que a empresa é , sempre foi, e vai continuar sendo, produtiva e lucrativa, gerando lucro bruto, operacional e caixa, nós já sabemos. Basta olhar os balanços publicados.
Mas querer se vangloriar pelo atingimento de metas de um Plano de Negócios cujo objetivo é desmantelar a empresa, já passou dos limites.
O PNG 2017/2021 da Petrobrás foi todo elaborado, não para contribuir com o desenvolvimento econômico do Brasil, não para retribuir ao principal acionista da empresa, o povo brasileiro.
O PNG 2017/2021 da Petrobrás tem como principal objetivo atingir o índice de alavancagem 2,5 estabelecido por Wall Street. Hoje a direção da Petrobrás comemora o fato de que está conseguindo alcançar as metas programadas. Para eles não interessam os meios que estão sendo utilizados para isto, baseados em duas ações: redução dos investimentos e venda de ativos.
A Petrobrás tem ao seu dispor a maior oportunidade de investimento da história do Brasil, que é o desenvolvimento do projeto pré-sal. O difícil, o raro, o excepcional foi a descoberta das reservas do pré-sal. Isto feito, o investimento teria de ser a conseguencia lógica e correta. Mas a Petrobrás, estranhamente, segue no sentido contrário e corta os investimentos, dando como justificativa alcançar um indicador contábil de alavancagem sem nenhum sentido.
Recente artigo da página da Federação Única dos Petroleiros (FUP) informa: ?Pedro Parente admite que Petrobrás pode ficar de fora dos leilões do pré-sal?.
O correto não é ?pode ficar de fora?, o correto é ?vai ficar de fora, pois o PNG 2017/2021 não prevê recursos para isto e as reservas serão entregues às petroleiras estrangeiras e não venham com a alegação de que faltam recursos, pois recursos não faltam para uma empresa que tem as reservas de petróleo e a tecnologia que só a Petrobrás tem. Não seria necessário nem captar novos empréstimos, bastaria rolar a dívida existente, para manter os investimentos e evitar a venda de ativos.
Temos ainda esta venda de ativos absurda, feita de forma dirigida, sem concorrência, sem transparência que está desmantelando a empresa. A Petrobrás está aos poucos sendo privatizada ?na moita?, sem o conhecimento e muito menos autorização do verdadeiro dono: o povo brasileiro. Privatização feita por um governo não eleito.
Segundo levantamentos feitos só a venda de Carcará, para a empresa estatal norueguesa Statoil, causou uma perda para o país superior ao efeito de duas Lava Jato.
A Associação dos Engenheiros da Petrobras (AEPET) em estudo, concluiu que a venda da Nova Transportadora do Sudeste (NTS) para a empresa canadense Brookfield Infrastructure Partners (BIP) representava: ?Um prejuízo maior do que o levantado pela Lava Jato?.
A AEPET esclarece : ?Ao todo esta atividade representa 78% da receita líquida da Transpetro e contribui para o lucro do sistema Petrobrás?, e questiona : ?Por que a Petrobrás deve sair de um nicho de negócios sem riscos e entregar o lucro garantido para a BIP ??
Em maio de 2016 ,portanto antes da venda da Liquigas , a Associação Brasileira de Revendedores de GLP (ASMIRG-BR) salientava: ? Brasil poderá sofrer maior golpe de sua história com venda da Liquigas? e também : ?Agora se vende uma empresa enxuta, de alta lucratividade por preço insignificante?.
A ASMIRG-BR questionava : ?O por que e quem escolheu o banco Itaú para conduzir esta negociação, sendo o banco Itaú sócio do grupo Ultra, que representa a Companhia Distribuidora Ultragaz??
Depois de demonstrar com números o crime de lesa-patria que estava em andamento a ASMIRG-BR fez um apelo: ?Há necessidade do TCU, CADE, MME, Orgãos de defesa do consumidor, dos nossos representantes no poder legislativo, dos nossos amigos da imprensa que nos leem em cópia, de levar a público esta ação que em primeira análise, se mostra com vícios, com propósitos distantes do interesse nacional e que ao contrário gerará mais perdas para a Petrobrás S.A.?
De nada adiantou a lamentação, no último dia 17 de novembro o Conselho de Administração da Petrobrás aprovou a venda da Liquigas para a Ultragaz por R$ 2,8 bilhões, em negociação conduzida pelo banco Itaú, sócio do grupo Ultra.
Efetivar estas vendas, num momento político em que toda a população está voltada para os capítulos diários da novela Lava Jato, e ainda comemorar os ?resultados sólidos? obtidos, é ou não é muita ?cara de pau?. É fantástico.
* Por Claudio Costa Oliveira é economista aposentado da Petrobrás.
Fonte: AEPET