Imagine uma trabalhadora ser ameaçada de morte por não se omitir diante de irregularidades que colocam em risco a segurança dos seus companheiros de trabalho. Imagine uma trabalhadora, mãe de quatro filhos, mudar drasticamente sua rotina familiar por questões de segurança, sendo obrigada a privar seus filhos de atividades até então corriqueiras como andar de bicicleta e jogar vôlei. Imagine uma trabalhadora ser demitida por justa causa por ter cometido um grave crime: defender de maneira intransigente a categoria.
Essa é a história de Ana Paula Aramuni, petroleira do Norte Fluminense demitida no último dia 4 de maio por justa causa. A Transpetro, subsidiária da Petrobrás ? empresa que à exaustão divulga os prêmios conquistados por sua tão exemplar responsabilidade social -, desligou a empregada alegando ?insubordinação, desacato aos superiores e indisciplina?. As supostas atitudes que teriam embasado esta justificativa até agora não foram apresentadas. E por uma razão simples: elas não existem.
Em resposta à exigência do movimento sindical de que a empresa se explique, os gestores do RH Corporativo decidiram marcar para o próximo dia 14 uma reunião para discutir o caso. ?Coincidentemente?, mesmo dia em que a empresa marcou a homologação da empregada, a ser realizada na sede do Sindipetro-NF. Não é a primeira vez e, certamente, não será a última oportunidade em que a empresa age de má fé para impor uma demissão claramente política.
Retaliação
A demissão de Ana Paula está revestida, sem sombras de dúvidas, de um caráter intimidatório e punitivo. Por sua atuação intransigente na defesa dos trabalhadores como membro CIPA, por dois mandatos consecutivos, sendo a candidata mais votada, a empresa voltou os olhos para Ana Paula e desde então vem perseguindo a empregada e outros ativistas da Oposição sistematicamente. Entretanto, ao invés de intimidá-la, a empresa acabou dando ainda mais munição para Ana Paula.
Com base nas inúmeras ocorrências de assédio moral coletivo, Ana Paula entrou com uma denúncia no Ministério Público do Trabalho relatando a perseguição da empresa e as irregularidades encontradas na Transpetro. ?A Cipa, da forma como está colocada, é um teatro. Os cipeiros não têm qualquer autonomia para fazer propostas. Nosso poder de participação em comissões de investigação de acidentes, em planejamentos de obras, em treinamentos, é praticamente nulo. E a empresa, para impedir nossa atuação na base, nos atola de tarefas e atividades que nada têm a ver com a nossa função dentro da comissão?, relata Ana Paula.
O estopim, no caso de Ana Paula, foi sua candidatura para o C.A da Transpetro. Com a possibilidade concreta de ser eleita representante dos trabalhadores, a empresa resolveu arregaçar as mangas e impedir sua eleição através de uma demissão injustificável.
?Ao me demitir, a empresa queria justamente me intimidar, impedir minha candidatura para o C.A e abafar a minha voz?, conta Ana Paula. ?Mas se era isso o que ela queria, se enganou. As pessoas tem que entender que nessas horas não podemos arredar o pé, não podemos ceder. Não tem como a empresa atuar da forma que está atuando, perseguindo e demitindo seus empregados por denunciarem o que está errado na empresa. As pessoas não podem se intimidar porque fui demitida. É isso o que a empresa quer. Essa hora é a hora de resistir?, desabafa.
Mexeu com meu companheiro, mexeu comigo! Reintegração de Ana Paula Já!
A Federação Nacional dos Petroleiros (FNP), seus sindicatos e as oposições que apoiamos nas demais bases estão engajadas na campanha pela reintegração de Ana Paula, dando ampla divulgação à demissão arbitrária e chamando a categoria a multiplicar o sentimento de indignação e revolta que já percorre todo o País.
Na última quinta-feira (10/05), FNP e Sindipetro-RJ fizeram um ato em frente à sede da Transpetro, na Avenida Presidente Vargas, no Rio, como forma de protesto. Segundo o Sindipetro-RJ, ?os dirigentes sindicais foram impedidos de entrar na sede da Transpetro pelo assessor da presidência, Alexandre Jaktsac?. Diante disso, ?a assessoria jurídica do Sindipetro-RJ apresentou denúncia ao Ministério Público contra a atitude de Jaktsac, já que os trabalhadores daquela empresa são representados pelo Sindipetro-RJ?.
Nesta sexta-feira, a FNP, juntamente com o Sindipetro-RJ e a Oposição do Sindipetro-NF, deu continuidade aos protestos integrando uma manifestação em frente ao Terminal de Cabiúnas, em Macaé, local de trabalho de Ana Paula. A intenção é pressionar a empresa a reverter a demissão.
É preciso que os 17 sindipetros espalhados pelo País deem ampla divulgação à campanha pela reintegração de Ana Paula. De acordo com os companheiros que integram a oposição do Sindipetro Unificado São Paulo, que também lançaram manifesto em apoio à campanha, ?o que ocorreu com esta companheira não pode passar, pois quando se tolera uma medida autoritária e anti-sindical contra qualquer trabalhador, compactua-se com que novos lamentáveis fatos como este venham a acontecer, atingindo qualquer um de nós?.
Segundo o coordenador-geral do Sindipetro-LP, Ademir Gomes Parrela, é urgente que todos os sindicatos encampem esta luta. ?Precisamos nos solidarizar com esta companheira, pois este não é um caso isolado. Esperamos uma participação mais efetiva e contundente dos demais sindicatos que ainda não se manifestaram e da outra federação?.
O caso de Ana não é isolado no Terminal de Cabiúnas e no Norte Fluminense
Além de Ana Paula, outros trabalhadores estão sendo perseguidos no Norte Fluminense, como outros membros da Oposição Unificada que estão sendo perseguidos também nas plataformas de petróleo. No Terminal de Cabiúnas, em Macaé, a regra executada pela chefia tem sido retirar direitos e instaurar comissões internas para quem decide lutar em prol dos petroleiros, que hoje se sentem coagidos. Só este ano quatro comissões disciplinares foram realizadas, com o objetivo de amedrontar a categoria, conhecida nacionalmente pela combatividade. Ainda, houveram mais dois trabalhadores punidos, além das punições veladas no setor de manutenção operacional, retirada de direitos como permuta com dobra, desconto salarial para quem participa de assembleia do sindicato e separação entre operadores de painel e da área.
Assine a petição pela reintegração
Com informações do blog reintegracaoanapaula.blogspot.com