Sua morte é um retrato das aberrações que a terceirização permite as empresas praticarem contra os trabalhadores.
O QUE OCORREU?
No início de março deste ano Seu Amaury foi diagnosticado com uma doença grave, chamada Amiloidose nos rins. Quando ainda estava internado na semi-UTI do hospital Gabriel Soares, já aguardando a perícia do INSS para receber o auxílio doença, Seu Amaury recebeu uma inesperada visita. A Braserv enviou seu representante até o leito do hospital, acompanhado da psicóloga da empresa, com a rescisão do contrato para ele assinar a demissão.
O representante da empresa alegou que era um contrato apenas de experiência e que o prazo havia vencido. Porém, Seu Amaury não era um trabalhador inexperiente. Ele sacrificou 20 anos da vida dele trabalhando para a Petrobras no campo de Carmópolis, sempre pulando de uma empresa para outra, sendo exposto a todo tipo de risco e contaminação. Mais que isso, era um trabalhador qualificado, que foi eliminado como se fosse um objeto descartável.
Essa situação gerou revolta e de imediato os trabalhadores da Braserv procuraram o Sindipetro AL/SE. Prontamente o sindicato procurou o fiscal do contrato para exigir a manutenção do plano de saúde. Ao mesmo tempo, entrou com uma ação para suspender a demissão.
“O trabalhador vai para o INSS e recebe um benefício. Enquanto faz o tratamento e ainda não estar apto a trabalhar, fica mantido o contrato de trabalho e o plano de saúde. Essa é a ação que está na justiça, pedindo a suspensão da demissão, porque ele foi demitido enquanto estava hospitalizado, muito embora a empresa esteja alegando que é contrato de experiência. Mas, ela não poderia demitir, porque ele estava internado, esperando a perícia do INSS”, afirma Conceição, advogada do Sindipetro.
Mesmo que o plano tenha sido mantido, colegas de trabalho relatam que o próprio médico do hospital falou que a demissão agravou ainda mais a doença devido fatores psicológicos.
NEGLIGÊNCIA
Houve também negligência na aplicação do medicamento e na demora do hospital para trazer um oncologista. Isso porque o plano de saúde jogava a responsabilidade para o hospital e o hospital jogava a responsabilidade para o plano.
A doença, causada pelo acúmulo anormal de proteína amiloide no coração, nos rins, no fígado ou em outros órgãos, teria um tratamento longo, de um há dois anos, através da aplicação de medicação via oral. Os médicos disseram que era melhor ele dar continuidade ao tratamento em casa, mas o medicamento, que é caro, continuaria sendo administrado pelo hospital, através do plano.
Familiares e colegas de trabalho relatam que o medicamento estava chegando até o hospital, mas não estava sendo liberado. Assim, Seu Amaury passou um mês e 15 dias sem tomar a medicação. O corpo voltou a inchar e agravou ainda mais o estado da doença.
POR NOSSAS VIDAS
Seu Amaury é mais um trabalhador que morre diante da crueldade e da falta de humanidade das empresas, que só pensam no lucro. Sua família, esposa, duas filhas e um neto, está desolada. Os companheiros de trabalho também sentem uma dor imensa e muita revolta por tudo o que aconteceu.
A morte de seu Amaury não é um caso isolado. Por ano são mais de 700 mil trabalhadores que sofrem acidentes ou doenças causadas pelo trabalho em um ano no Brasil. Destes, foram registradas 2,5 mil mortes em 2015. Com as reformas da Previdência e Trabalhista e a lei da terceirização, mais vidas vamos perder. E as empresas vão continuar escapando impunes.
Precisamos lutar e resistir contra essas impunidades. Não podemos mais ser vítimas da exploração. Queremos que os responsáveis pela morte de seu Amaury e de cada trabalhador e trabalhadora paguem por cada gota de suor, sangue e lágrima derramada.
Para isso temos que tirar do poder aqueles que vivem da exploração do nosso trabalho. Precisamos nos preparar para defender nossos direitos, nossos empregos e nossas vidas. Isso é possível através da nossa organização em nossos locais de trabalho e nossos bairros.
É a partir da nossa organização por baixo, que podemos construir uma forma de poder operária e popular, para derrubar os de cima. Só assim aqueles que trabalham e produzem toda a riqueza serão um dia livres e respeitados.
Fonte: SindipetroAL/SE