A Folha de São Paulo publicou na edição desta terça-feira (12/06) uma matéria sobre a inclusão da Petrobrás na lista dos 20 primeiros colocados do Banco Nacional de Devedores Trabalhistas, o BNDT. Atuando da mesma forma que as pessoas físicas que não honram seus débitos e têm seu nome inserido nos bancos de proteção ao crédito, o Banco inclui em seu sistema o nome das empresas que não efetuam o pagamento das dívidas trabalhistas. Em resposta à Folha, a Petrobrás atribuiu seu nome na lista a um total de 1.476 processos às demandas dos funcionários de empreiteiras contratadas para ?grandes empreendimentos?. Ou seja: os terceirizados.
Não é de hoje que a Petrobrás vem jogando a culpa no lado mais fraco. A melhoria das condições de saúde e segurança do petroleiro terceirizado, antiga reivindicação do Sindicato, até agora não passa de promessa. O fim da terceirização, inclusive já recomendada pelo TCU (clique aqui e leia a matéria), também não parece ser uma prioridade da empresa, embora seja uma das maiores bandeiras de luta do movimento sindical.
Até 2011, segundo levantamento da própria companhia, a Petrobrás possuía 76.919 trabalhadores efetivos e 295.260 terceirizados, proporção de 3,84 trabalhadores terceirizados para cada 1 trabalhador efetivo. E são justamente esses trabalhadores as maiores vítimas de assédio moral, irregularidades no pagamento de horas extras, salários e holerites atrasados, número insuficiente de trabalhadores e até mesmo demissão arbitrária.
É com essa política de precarização do trabalho que a Petrobrás ainda tem a coragem de afirmar que prioriza a igualdade entre toda a força de trabalho. Se fosse assim, não haveria trabalhadores insatisfeitos. Se fosse assim, não haveria mortes por acidente. Se fosse assim, a companhia não lavaria as mãos quando estivesse diante de algum problema com os petroleiros terceirizados. Porque é isso o que ela faz: à mídia diz que, como eles trabalham para as empreiteiras, ela nada tem a ver com isso e tenta sair pela tangente.
Paralelamente, a Petrobrás faz uma ilusória campanha para a mídia, que divulga, com fervor, as inúmeras oportunidades de emprego na maior empresa no Brasil e seus prêmios cada vez maiores e mais frequentes de responsabilidade social. O que poucos sabem é que, por trás de tanta propaganda, há um sério problema de discriminação. Em março e abril deste ano, após firmar um acordo judicial com o Ministério Público do Trabalho, em São José dos Campos, a empresa teve a indigesta tarefa de veicular na Rede Globo uma campanha de conscientização nacional por conta de uma ação civil pública que apurou práticas discriminatórias da Petrobrás contra petroleiros trabalhadores terceirizados da Revap. Um ?pequeno? preço pago ? uma doação de R$ 412 mil para entidades beneficentes escolhidas pelo MPT ? perto da gravidade dos atos cometidos pela empresa.
Cabe aos sindicatos e aos trabalhadores denunciar os desvios da empresa e impedir que os mais distraídos assistam com bons olhos comerciais bem produzidos e com belas mensagens, mas completamente demagógicos em seu conteúdo.