A invasão policial brutal levada a cabo pelo governo tucano de Geraldo Alckmin contra a comunidade do Pinheirinho, a maior ocupação urbana da América Latina, foi colocada em pauta no 1º dia de congresso por dois convidados que viram de perto as atrocidades cometidas contra cerca de duas mil famílias. Antônio Ferreira, o Toninho, advogado dos moradores, e Valdir Martins, o ?Marrom?, dirigente do Must (Movimento Urbano Sem Teto) e uma das lideranças do Pinheirinho.
No dia 22 de janeiro, cerca de dois mil homens fortemente armados da Polícia Militar invadiram o Pinheirinho, ocupado desde 26 de fevereiro de 2004 em um terreno equivalente a 111 campos de futebol. A área pertence ao mega-especulador e bandido de colarinho branco Naji Nahas, que chegou a ser preso, mas logo depois solto, mesmo sendo responsável por uma série de crimes financeiros.
Pelos relatos, no dia da invasão policial, para cada casa tinha uma bomba de gás lacrimogêneo, cavalaria pesada, cães de guarda, balas de borracha. Sobre por que tanta violência, Toninho apresentou alguns motivos. ?Um deles é que a população pobre teve coragem e ousadia de fazer um parcelamento do solo sem participação do Estado. A principal praça tinha nome de Quilombo dos Palmares e outras ruas com nomes de diversos lutadores que morreram pelo país. E isso eles não poderiam permitir. Tinha autogestão, com assembleias e reuniões frequentes, inclusive com forte participação das mulheres. Se envolviam nas lutas gerais dos trabalhadores, apoiavam todas as manifestações contra os poderosos, se politizavam a cada ato. Isso eles não poderiam permitir. Enfim… construir uma nova concepção de sociedade era um problema pra eles. Além da questão imobiliária, pois este terreno estava parado desde a década de 80, e o setor queria esse terreno para fins de especulação?.
Em relação à questão legal da invasão não havia qualquer pedido de liminar para retirar as famílias do local. A juíza responsável por ordenar a invasão tomou esta medida, claramente, direcionada pelos interesses do setor imobiliário e dos governos municipal e estadual. ?Passaram por cima de tudo, até mesmo de uma liminar que conseguimos e que estava em vigência. O tão falado Estado de direito foi atropelado. Quem respeita são os trabalhadores, porque quando os poderosos querem passam por cima de tudo. Tinha um acordo, que também foi atropelado, arrebentaram o pacto federativo?, denunciou Toninho.
Marrom detalhou ainda mais como era a rotina dos moradores e a crueldade da invasão. ?Marido que batesse mulher não podia ficar e se houvesse roubo e comprovado o responsável, era expulso. E o engraçado é que quando havia furto na cidade, o primeiro lugar que procuravam era o Pinheirinho. Tínhamos rua, casas construídas, comércio. Era uma verdadeira cidade. Durante os oitos anos do Pinheirinho nunca houve morte e a própria polícia confirma que na região diminuiu o índice de criminalidade. As pessoas saíram de suas casas só com a roupa do corpo, numa invasão que teve dois helicópteros, tanques para derrubar as casas, com tudo dentro, fogão, geladeira, e 600 homens da tropa de choque… Algo que nunca vi antes?.
Sobre os tempos atuais, Marrom misturou tristeza com esperança. ?A primeira coisa que as crianças que moravam ali me perguntam é: ?que dia eu vou voltar?? Hoje, você passa lá e o terreno está abandonado. Foi pra isso que serviu a ocupação? Mas a batalha não acabou. Hoje, de 15 em 15 dias temos uma assembleia no Campão com os ex-moradores, que não desistiram da luta?.
Para Toninho, a grande pauta de toda a sociedade é a questão das cidades voltada ao problema da moradia. E como exemplo de inversão de prioridades, revestido de projeto social, está o Minha casa, Minha vida. ?Este é um projeto que atende às grandes construtoras, não a população. Não é à toa que nada foi feito para famílias que recebem de 0 a 3 salários mínimos. Esse programa foi colocado em prática para beneficiar os empresários, não pra resolver o problema de déficit habitacional do país?.