Em palestra sobre conjuntura socioeconômica, a luta como estratégia

O primeiro dia do VI Congresso Nacional da FNP, sexta-feira (28/07), foi fechado com duas palestras sobre a conjuntura socioeconômica do Brasil e da Petrobrás, além de um breve balanço sobre as campanhas salariais. Para abordar o assunto foram convidados Atnágoras Lopes, membro da CSP-Conlutas, e Jardel Filho, economista do DIEESE, que acompanha as negociações da FNP com a companhia.

Para aqueles que aguardavam palestras repletas de indicadores e percentuais, as duas intervenções surpreenderam. Os dois convidados preferiram priorizar a análise política da atual situação da luta de classes. Atnágoras apontou a parceria cada vez maior do Governo Federal com o setor empresarial como uma das principais causas de uma série de ataques que estão sendo dirigidos aos trabalhadores. O anúncio por parte de Dilma de que é necessário acelerar a retomada dos leilões do petróleo foi um dos exemplos citados, tendo a resistência do movimento sindical petroleiro, encabeçada pela FNP, como um dos principais desafios para o próximo período.

?Para enfrentar essa crise, os governos não têm tremido sua mão e tem ampliado o ataque aos trabalhadores. O Governo da Bahia mandou cortar o ponto do funcionalismo, há mais de seis dias em greve; com a força da greve dos servidores públicos, a presidente Dilma já decretou uma lei mudando a regra do jogo, com um ataque ao direito de greve?, afirmou Atnágoras, que enxerga em todas essas ações uma sistemática criminalização dos movimentos sociais. ?Interditos proibitórios, liminares a cada greve obrigando categorias a trabalhar até 80% do que seria considerado normal… Um absurdo! Tudo virou serviço essencial?.

A forma de combater todos esses ataques, muitos deles físicos e com registros de ativistas e sindicalistas assassinados, não é matemática, mas Atnágoras aponta um caminho: para ele, esta luta vai além de ser petroleiro, metalúrgico ou sem-teto, por exemplo. ?Temos que aprender com a juventude européia, protagonista das lutas em curso na Espanha, Portugal e Grécia, que se negam a ser condenados e viver um nível inferior ao dos seus pais, que estão tendo direitos conquistados com muita luta completamente devastados. Precisamos resgatar a solidariedade de classe, resgatar o olhar e a análise de que o mundo é dividido em classes; algo que foi abandonado pelos nossos dirigentes tradicionais, que passaram a acreditar que é possível humanizar o capitalismo. É possível? Retomar esses temas mais estratégicos é um dos desafios desse Congresso, dos debates que serão armados na luta da categoria petroleira?.

Para Jardel, cuja palestra aconteceu logo em seguida, as disputas das populações pobres buscando imprimir de alguma forma seus interesses, chama a atenção. ?Mesmo depois de 1960, pela primeira vez no Brasil temos uma combinação de crescimento econômico com democracia. O Governo está fazendo um esforço pra sustentar esse crescimento. Mas a crise afetou a economia brasileira. E foi essa crise que se colocou no mundo inteiro a responsável por impor um conflito entre a democracia e os interesses econômicos. Há um risco enorme para as classes dominantes, que é a classe trabalhadora em plena luta?.

Na visão de Jardel, mesmo que alguns indicadores sejam positivos do ponto de vista econômico, isso não significa desenvolvimento no que se refere à qualidade de vida. Em sua opinião, são os movimentos sindicais e sociais que devem impor o que ele chama de ?salto qualitativo? para que o quadro de desigualdade que persiste neste país seja alterado.

Por fim, finalizou sua palestra com uma mensagem inusitada para um economista, de quem se esperava números, gráficos e análises frias das campanhas salariais. ?Para onde vai o movimento sindical, o DIEESE precisa andar, acompanhar. A mesma coisa deve ser pensada em relação à economia e aos economistas. Nós temos muitos economistas à frente dos governos, ministérios, presidências. Temos que ter muito cuidado. Se os economistas e a economia em si não forem conduzidos pela política que queremos, fatalmente iremos patinar na lógica neoliberal e não vamos sair da armadilha criada pelos estados, que salvaram os bancos e agora estão em dificuldade, tentando fazer com que população pague por seus erros. Precisamos de uma inversão, pois a fala econômica não deve ser a principal de um congresso como este; é a fala política que tem condições e deve dar o tom para encontrar soluções efetivas que nós devemos conquistar no Brasil?.

Está gostando do conteúdo? Compartilhe!

Share on facebook
Facebook
Share on twitter
Twitter
Share on linkedin
LinkedIn
Share on whatsapp
WhatsApp