O novo Presidente da Petrobrás nega, mas o fato é que na tarde de ontem (10), Carlos Victor Guerra Nagem, apontado pelo presidente Jair Bolsonaro como "amigo particular" em uma de suas campanhas políticas, foi indicado pela direção da Petrobrás para a gerência executiva de Inteligência e Segurança Corporativa da estatal. A gerência executiva é o segundo maior escalão da Petrobrás, ficando abaixo apenas da diretoria e do próprio presidente.
Victor é administrador e passou em concurso da Petrobrás há cerca de 10 anos. Nesse período, nunca teve função gratificada. Atualmente, é lotado em Curitiba. A empresa defende a indicação dizendo que Nagem é empregado da companhia há anos e tem o currículo adequado para a vaga, porém, a empresa vinha implantando procedimentos de promoção interna que exigiam, entre outras coisas, um período de experiência em cargos de chefia. Não é o caso do amigo do presidente.
A informação foi revelada pelo site O Antagonista e confirmada pela Folha de SP.
Na noite de quinta (10), Bolsonaro já havia se manifestado em defesa de Nagem. Com uma imagem de nota da Petrobrás com o currículo do indicado, Bolsonaro escreveu: “A era do indicado sem capacitação técnica acabou, mesmo que muitos não gostem. Estamos no caminho certo!".
Mais tarde, ele apagou o tuíte e o substitui por outro sem a frase. Manteve apenas o início do texto: “A seguir o currículo do novo Gerente Executivo de Inteligência e Segurança Corporativa da Petrobras, mesmo que muitos não gostem, estamos no caminho certo!”
Victor, também conhecido como Capitão Victor, em referência a seu histórico na Escola Naval, pediu à empresa, por pelo menos duas vezes, “licença para promoção de campanha eleitoral”. Em 2016, candidatou-se a vereador de Curitiba pelo PSC, então partido de Bolsonaro, que fez campanha para ele. Capitão Victor recebeu 1.129 votos e não se elegeu.
No ano passado, em novo afastamento da estatal, Victor tentou uma vaga para deputado estadual — também pelo PSC e igualmente com o apoio do amigo então presidenciável. Ganhou 583 votos e, de novo, não foi eleito.
Agora, com Bolsonaro no Planalto, conseguiu o grande salto da carreira na Petrobrás. Com um salário atual em torno de 15 mil reais, passará a ganhar mais de 50 mil reais por mês e comandará uma das mais importantes gerências da estatal.
Uma demonstração clara de que o governo interferiu na indicação da empresa e passou por cima de todos os procedimentos internos de promoção para promover um amigo pessoal do presidente da República.
Inclusive, a Petrobrás fere o próprio Plano de Cargos e Remuneração (PCR), estabelecido em 2017, cujo um dos objetivos é avaliar as pessoas por suas entregas, não por suas titulações. Para piorar a situação, a natureza do cargo para o qual Nagem foi promovido exige qualificações de um profissional sênior, e não pleno, como é o caso do amigo do presidente.
A prova disso é a lista disponível na rede interna da empresa, que determina que o indicado tenha pelo menos dez anos de experiência gerencial em empresa de grande porte ou do sistema Petrobrás. Diferente da experiência do amigo de Bolsonaro.
O presidente da Petrobrás, Roberto Castello Branco, negou em entrevista à Folha que a indicação tenha motivação política. Ele defendeu a experiência de Nagem na área, dizendo que o indicado trabalha há seis anos na área de segurança empresarial da Petrobrás.
"Não recebi pedido ou indicação de ninguém", disse. "Escolhi a melhor pessoa que entrevistei." Será mesmo?
Na manhã desta sexta-feira (11), o presidente Jair Bolsonaro voltou a defender a indicação de Carlos Victor Guerra Nagem para a gerência executiva de Inteligência e Segurança Corporativa da estatal.
Com informações: O Antagonista e Folha de SP.