Neoliberalismo, metas e produtividade

Na avaliação de especialistas, o tema do assédio moral abre espaço para diferentes elementos, de caráter subjetivo e na relação de poder no interior do local de trabalho. No entanto, um dos principais fatores parece ser a influência que os impactos do neoliberalismo causaram no mundo do trabalho. Metas e pressão sobre os trabalhadores são questões correntes que influenciam a prática do assédio moral. ?Tem sido cada vez mais comum levando em consideração que os trabalhadores se responsabilizam por tudo, e hoje devem acompanhar tudo na produção, produzir com qualidade, sendo punidos pelos defeitos no produto?, comenta José Freire da Silva, do Sindicato dos Químicos do ABC.

Este problema remete à década de 1990 e à chamada reestruturação produtiva, que ocasionou mudanças no interior da produção e do trabalho. De acordo com a psicóloga Luciene Lacerda, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), em seminário intitulado ?Desobedeça?, realizado na Universidade Federal do Paraná (UFPR), o novo desenho de produção, com metas de produtividade, lucratividade e resultados, gera uma violência direta contra o trabalhador. ?O assédio moral se dá de cima para baixo, não apenas entre chefe, mas é o capital que o está colocando em busca do resultado do trabalho, como uma resposta à produção?, afirma. A pesquisadora acrescenta que pesquisas quantitativas sobre o tema ainda não refletem a totalidade do problema, uma vez que os trabalhadores sentem-se pressionados e optam por não mencionar que já sofreram o assédio moral, com medo de retaliação por parte das chefias.

Já na explicação de Freire, as mudanças impostas ao mundo do trabalho a partir da década de 1990 no Brasil e no mundo desde a segunda metade do século vinte aplicam-se no controle da empresa sobre o trabalhador. ?Doenças como a Lesão por Esforço Repetitivo (LER) são consequências de atingir metas, resultado da reestruturação produtiva. Mas vejo a questão do assédio moral mais ligada à relação da empresa de querer controlar o trabalhador no seu todo, como uma ferramenta e não como uma pessoa. Uma questão ligada à tratativa entre as pessoas no interior da fábrica?, afirma.

Assédio em ambiente conservador

As diferentes categorias podem apresentar características próprias em relação ao tipo de assédio moral. No caso dos servidores do Judiciário, por exemplo, um ramo marcado pelas relações de hierarquia e conservadorismo, o cotidiano dos trabalhadores é marcado por casos de danos morais, advertência, censura, suspensão, entre outras formas de assédio moral. ?Isso vai baixando a moral do trabalhador. Há casos de depressão na categoria, relações humanas bastante problemáticas, coisa bem séria e o tribunal não tem um trabalho com relações humanas?, define Rosanna Ventura, do Sindicato dos Servidores do Poder Judiciário do Paraná (Sindijus-PR), quem define o assédio moral nesses ambientes como praticamente ?institucionalizado?.

Até mesmo na instância dos servidores do Judiciário há uma tendência ao produtivismo que intensifica o assédio moral sobre o trabalhador. ?A Justiça Federal ganha superbem, com um patamar mais alto de salário. Quando a gratificação se põe em risco por causa do outro, há uma disputa entre diferentes varas para que o funcionário trabalhe muito?, explica.

Fonte: Brasil de Fato

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