Opinião: Na dúvida, pare?

No dia 13/03/2013 neguei em emitir Permissão de Trabalho (PT) aos trabalhadores da empresa CEMON, para um serviço de construção de linha com escavação. Avaliei que havia uma situação de risco, além do salário dos trabalhadores que estava há vários dias atrasado. Para prevenir o pior, eu não poderia emitir tal permissão. Segui o que indica o ACT (Acordo Coletivo de Trabalho) e a afirmativa da Presidente Graça Foster, no que diz respeito ao direito de recusa.

Entrei em contato com o meu supervisor. Expus meu ponto de vista, em virtude de pressentir isso no contato que tive com os trabalhadores. Aleguei que seria perigoso emitir PT numa situação como essa. A reação da supervisão foi a pior possível. Ele me transferiu de área e me colocou na programação de raspadores, para colocar nessa área alguém que emitisse a PT.

Mas o que se previa aconteceu. Na execução dos trabalhos, numa atividade de escavação, um tubo de inox, responsável pela alimentação de uma válvula autônoma foi quebrado (não esquecer que o acidente de Furado, onde morreram quatro trabalhadores, foi em uma válvula autônoma). Um detalhe: essa operação tinha sido feita há menos de dois meses pelo mesmo pessoal, que sabia que esse tubo se localizava naquele local. O que podemos avaliar nisso? Todo e qualquer serviço, principalmente os de alto risco, é preciso que as pessoas que irão operar tal atividade estejam concentradas naquilo que vão fazer, o que não havia naquele público, pelo fato de estarem há vários dias com os seus salários atrasados.

Consequentemente, estavam com a cabeça em outro alvo (escola dos filhos, aluguel, feira, etc.), por isso me neguei em emitir a PT. No meu ponto de vista, não havia equilíbrio emocional naquelas pessoas e o trabalho era de alto risco. Felizmente, nenhum trabalhador foi vitimado, pois o dano foi somente material!

Entretanto, fica evidente que a política do ?Na dúvida pare? as vezes é ofuscada por outros interesses. E a vida do trabalhador termina ficando refém disso. Nem mesmo com todas as evidencias apontadas para o caos, conseguimos frear a possibilidade do sinistro. Infelizmente, os interesses econômicos terminam suplantando o interesse da vida.

* Relato de um diretor de base do Sindipetro Alagoas/Sergipe

Está gostando do conteúdo? Compartilhe!

Share on facebook
Facebook
Share on twitter
Twitter
Share on linkedin
LinkedIn
Share on whatsapp
WhatsApp