Um vazamento de óleo combustível no Tebar (Terminal Aquaviário Almirante Barroso), em São Sebastião, atingiu diversas praias do litoral norte de São Paulo na noite da última sexta-feira (5). Com aproximadamente 3 km de extensão, a mancha avançou para a enseada, no sentido de Caraguatatuba. O acidente ocorreu por volta das 17h30 em uma válvula da linha 22, que estava em manutenção recentemente e havia sido reativada justamente no dia do acidente.
Embora não haja informações precisas sobre a dimensão do vazamento, está claro para o Sindipetro-LP que as primeiras informações divulgadas pela companhia subestimam as reais consequências do acidente. Em nota à imprensa, a Transpetro tem divulgado o fato como ?incidente? e chegou a informar ao Sindipetro-LP que haviam sido derramados 80 litros de óleo.
Neste sábado, 6 de abril, juntamente com representantes da Transpetro, o Sindicato sobrevoou as praias atingidas em um helicóptero. Durante o voo, ficou claro que o vazamento não foi pequeno. ?Não podemos precisar qual o volume, mas certamente é bem maior que a informação repassada pela companhia. Infelizmente, a Transpetro preferiu minimizar o estrago real para não arranhar sua imagem. Entendemos que transparência nesse momento é fundamental para um combate efetivo a novas ocorrências desse tipo?, afirmou o diretor do Sindipetro-LP, João Luis Cravo.
A opinião de que o vazamento foi grave não é apenas do Sindicato. No site oficial da Prefeitura, as autoridades oficiais também apontam que o vazamento foi de grandes proporções. Além disso, reclamam da ausência de informações por parte da Transpetro, cujo site oficial não disponibilizava nenhuma informação sobre o vazamento até o fechamento desta matéria.
Segundo o secretário municipal de meio ambiente, Eduardo Hipólito do Rego, a cidade ainda não recebeu qualquer notificação oficial por parte da empresa. O site da prefeitura, em matéria divulgada neste sábado, relata que Hipólito assegura que o vazamento foi grave. ?Não sabemos ainda se é óleo, mas dá para afirmar que é um derivado de petróleo. O vazamento foi de grandes proporções, tanto que atingiu várias praias. Não podemos descartar que esse produto se espalhe ainda para as cidades vizinhas?, alertou.
O operativo montado pela Transpetro para conter o vazamento também depõe contra a versão oficial de um simples ?incidente?. No total, mais de 300 pessoas e 27 embarcações trabalham na contenção do óleo. Até o momento foram atingidas as praias Deserta, Pontal da Cruz, Ponta do Lavapés e Portal da Olaria, todas na região central da cidade. No entanto, moradores da Praia das Cigarras, na Costa Norte, relatam manchas de óleo no mar.
Um problema crônico no Tebar
Infelizmente, este vazamento não é um caso isolado. O maior terminal Aquaviário da América Latina, responsável pelo transporte de 55% do petróleo consumido em todo o País, convive cotidianamente com ocorrências dessa natureza. Em 14 de fevereiro, um vazamento no terminal suspendeu a operação nas refinarias de Cubatão e São José dos Campos (leia a matéria). Pouco mais de um mês depois, em 19 de março do mesmo ano, um novo vazamento de óleo atingiu o Córrego do Outeiro, que corta São Sebastião (leia a matéria). Em 11 de abril, também em 2012, um novo vazamento foi diagnosticado (leia a matéria).
A insegurança na unidade já rendeu, inclusive, atritos entre a Transpetro e a Prefeitura. A pretendida obra de ampliação do píer do terminal está ameaçada, uma vez que o prefeito da cidade, Ernane Primazzi, anunciou protocolo de pedido de suspensão das audiências públicas marcadas pela Petrobrás para discutir a referida ampliação. O motivo: a Prefeitura não recebeu ainda cópia do Estudo de Impacto Ambiental da obra.
Petroleiros do Tebar estão em Estado de Greve por mais segurança
Com diversos problemas na unidade, desde a alimentação até questões de segurança, os trabalhadores do Tebar estão em Estado de Greve. Ou seja, a qualquer momento podem deflagrar um movimento por tempo indeterminado.
Dentre as reivindicações, está um problema antigo há muito tempo cobrado pelo Sindicato e pela categoria: a redução do quadro mínimo da unidade, que contribui significativamente para a insegurança do terminal. Com a produção cada vez maior e o número de trabalhadores cada vez menor, não é preciso dizer que os riscos de acidentes aumentam consideravelmente.
Para o Sindicato não é possível operar plenamente o terminal com o atual efetivo, que sofre diariamente com casos de assédio moral ? muitos deles relacionados à pressão dos chefes por metas cada vez mais agressivas.
Vazamentos como o ocorrido neste fim de semana apenas reforçam a necessidade de um contingente maior de empregados para prevenir esses acidentes. Neste sentido, consideramos preocupante a retirada do quinto homem dos píeres e a suspensão do sobreaviso dos técnicos de segurança ? depois revertida após pressão do Sindicato (leia aqui a matéria).
?Coincidentemente?, essas medidas foram tomadas após o anúncio do Programa de Otimização de Custos Operacionais (Procop), aplicado pela presidente Graça Foster para diminuir uma série de gastos na empresa. Infelizmente, percebe-se que a economia está atingindo a segurança das unidades. Reduzir custos aumentando os riscos de acidentes não nos parece uma economia inteligente. Vidas estão em jogo.
Uma comissão para apurar as causas do vazamento já foi instaurada pela companhia. O Sindipetro-LP participa deste grupo e já está cobrando todas as informações para uma apuração rigorosa dos fatos.