* Artigo de Fabíola Calefi
Não podemos negar. A propaganda da Semana da Saúde da Petrobrás, divulgada essa semana com o Lema “Preocupe-se menos. Viva mais”, é linda! Mas, infelizmente, ela reflete apenas a capacidade técnica e profissional da equipe que a elaborou. Somente… pois, o conteúdo é totalmente incoerente com a realidade do trabalhador. É impossível no atual momento histórico dos trabalhadores colocar em prática as ?dicas? que os gestores da Petrobrás insistem em fornecer para garantir uma melhor qualidade de vida.
Em média, a maioria dos empregados desenvolvem uma jornada de trabalho de 40 a 44 horas semanais, primeirizados e terceirizados respectivamente, o que significa de 8 a 9 horas de trabalho diárias. Soma-se a isso 1 hora de intervalo para refeição, mais 2 a 4 horas de deslocamento do trabalho-casa-trabalho. Temos, portanto, de 11 até 14 horas diárias destinadas ao trabalho. Se contabilizarmos que o horário de sono ideal é o de 8 horas, temos de 5 a 2 horas diárias nos dias úteis para passar com a família, dedicar ao estudo, organizar as tarefas para o dia seguinte, resolver problemas de escola, banco, etc. À maioria das mulheres, esse horário torna-se ainda mais penoso, pois é dedicado exclusivamente à dupla jornada de trabalho, com o cuidado da casa, preparar a refeição da família, limpeza, arrumação, higiene, etc.
Aos finais de semana é improvável que a maioria das pessoas dediquem exclusivamente todo o tempo para o ?lazer?. Além dos problemas que deixaram de ser resolvidos ao longo da semana, as pessoas utilizam mais esse tempo para repor as energias, literalmente sugadas, pelo trabalho.
Por isso, não passa de um belo conto de ficção o comercial elaborado pela empresa para a Semana da Saúde. Pessoas sorrindo, felizes, na praia, curtindo a família e o tempo livre, sem preocupações, sem pressa, como sinônimo de saúde. A realidade dos trabalhadores expostos aos mais diversos agentes químicos, obrigados a cumprir uma jornada excessiva de trabalho, diariamente cobrados para apresentar resultados e cumprir metas cada vez mais difíceis de cumprir e ainda sofrer com assédio da chefia, mostra que o discurso da empresa está muito distante da realidade.
Estamos vivendo, possivelmente, a maior crise do capitalismo desde 1929. Uma parcela significativa da classe trabalhadora, principalmente da Europa, viu em pouco tempo vários direitos conquistados historicamente com muita luta serem retirados por governos pressionados pelo sistema financeiro e seus credores, os banqueiros.
No Brasil, a classe trabalhadora sofre um ataque brutal com a proposta de regulamentação do ACE ? Acordo Coletivo Especial. Uma de suas medidas pode alterar a forma como os trabalhadores desfrutam de suas férias, por exemplo.
Na Petrobrás está em curso o regramento da PLR, que inclui em um de seus critérios absurdos a redução do valor final de acordo com o numero de derramamento de óleo, justamente quando está em plena aplicação o PROCOP, programa que visa redução de custos com segurança e de quadro de empregados. Dezenas de trabalhadores morrem todos os anos por causas, que incluem, desde acidentes à doenças ocupacionais, muitas delas decorrentes da exposição a agentes químicos, não reconhecidas pela empresa, como o Benzenismo.
No setor administrativo, as pessoas trabalham muito mais que as 40/44 horas semanais estipuladas na lei. Existe um banco de horas que armazena até 30 horas mensais trabalhadas além das 40 horas semanais obrigatórias por lei. Banco de horas ilegal criado pela empresa unilateralmente ao que prevê o ACT. E os empregados que ultrapassam as 30 horas mensais em sua jornada de trabalho simplesmente perdem essas horas, doando-as a empresa. Por isso, o Sindicato entrou com uma ação na Justiça para corrigir essa irregularidade (leia aqui).
É lamentável que na semana da saúde, período pertinente para o debate sobre as condições de segurança e saúde do trabalhador, a empresa nos apresente somente um vídeo “motivador”. E o pior, cujo objetivo é repassar para o trabalhador a responsabilidade pela administração do seu tempo “livre”.
Não é mera coincidência o fato de que a maioria esmagadora dos trabalhadores possui apenas 5 a 2 horas diárias livres para o “lazer”. Sem tempo para ler, questionar, se mobilizar, se organizar, de que forma combater os abusos das empresas e dos patrões? Ainda mais quando a empresa para a qual você dedica a maior parte da sua vida diz “preocupe-se menos, viva mais”.
A história de lutas da classe trabalhadora nos mostra que somente nos foi permitido viver mais por termos nos preocupado mais, por termos lutado por melhores condições de trabalho. As jornadas de 16 horas e o trabalho infantil, antigamente naturalizados, hoje são crimes apenas porque os trabalhadores foram à luta. A exploração imposta pelas empresas e pelos patrões nunca nos permitiu o luxo de nos preocuparmos menos e vivermos mais. É a auto-organização dos trabalhadores que irá nos garantir viver mais e melhor. Por isso, lutamos:
– Pela redução da jornada de trabalho já, com aplicação da jornada de 36 horas semanais!
– Por uma Petrobrás 100% estatal!
– Pelo fim dos Leilões do Petróleo!
– Contra a privatização!
* Fabíola Calefi é diretora do Sindipetro-LP e integra o Departamento de Mulheres do Sindicato