Embora tenha marcado o fundamental retorno das reuniões de SMES com a natureza de comissão, permitindo uma discussão mais qualificada sobre os problemas no Sistema Petrobrás, a Transpetro não compareceu à reunião da Comissão de SMES, realizada nesta quarta-feira (17/04), no Edise.
A ausência da subsidiária foi duramente criticada pela FNP. É inconcebível que menos de 15 dias após o vazamento no Tebar, em São Sebastião, a Transpetro não participe da comissão de SMES.
Com a ausência dos representantes da subsidiária não foi possível, por exemplo, obter respostas imediatas da Transpetro sobre as diversas falhas que marcaram o acidente no Litoral Norte de São Paulo. Falhas como a lentidão no combate a emergência, a persistência de um quadro mínimo reduzido para operar a unidade, aliada a uma pressão cada vez maior por produtividade e agilidade na aplicação de metas.
Mais grave ainda, diante da repercussão nacional do caso, é a tentativa da Transpetro em responder aos ataques da imprensa burguesa responsabilizando os trabalhadores de chão de fábrica pelo acidente. Diante dessa ?caça às bruxas? sobre o lado mais fraco da corda, uma vez que gerentes nunca são responsabilizados, a FNP deixou claro que não aceitará nenhum tipo de punição aos trabalhadores.
?Otimização? dos custos, precarização da segurança
A impopularidade do Procop se alastra com rapidez nas unidades da Petrobrás. Não é à toa. Em algumas bases, sob o argumento de redução de custos, estão cortando palestras e até mesmo o lanche dos trabalhadores. Nas bases do Litoral Paulista e do Pará/Amazonas/Maranhão/Amapá, a alimentação tornou-se um problema crônico. Em outras, como na Revap, foi cortado o isotônico dos petroleiros em treinamento de brigada. Reduções mesquinhas que apenas aprofundam o desgaste da empresa com a categoria.
Por outro lado, existem cortes que muito além de serem mesquinhos, colocam em risco a segurança das unidades e dos trabalhadores. A ?otimização de custos?, anunciada pela empresa para agradar o mercado financeiro, está se materializando em precarização das condições de trabalho.
Empurra-empurra, violação do ACT, retaliação às CIPAS
A FNP cobrou do Corporativo um acompanhamento mais estreito sobre a atuação das gerências e RH?s locais, que muitas vezes atropelam orientações da própria alta administração da companhia.
Nota-se uma posição generalizada de empurra-empurra de responsabilidades. Quando não há disposição para atender as revindicações dos trabalhadores, gerências e recursos humanos locais afirmam estar de mãos atadas, porque ?o corporativo não deixa?. Mas quando existe uma orientação clara do Corporativo em favor das revindicações, afirmam sem constrangimento que ?o Corporativo não manda nada aqui?.
Outro absurdo citado na mesa é a retaliação de algumas gerências à autonomia das CIPAS. Na RPBC chegou-se ao absurdo da refinaria proibir os cipeiros de divulgarem ações preventivas na SIPAT baseadas no acidente fatal de um terceirizado em abril de 2012. Ou seja, aquilo que a empresa oficialmente estimula – a divulgação de ocorrências -, está sendo censurada.
Foi relatado ainda no Litoral Paulista o desrespeito ao parágrafo 1º da Cláusula 115 do ACT. A empresa não está permitindo o embarque dos representantes sindicais às reuniões de CIPA das plataformas FPSO. Atualmente, a participação está garantida apenas nas plataformas fixas (Merluza e Mexilhão).
Assédio Moral
?Está insatisfeito? Lá fora é muito pior?. Essa e outras frases fazem parte do repertório de casos de assédio moral cometidos por gerentes sobre seus subordinados. A FNP denunciou o constrangimento que muitos trabalhadores são submetidos ao avaliarem negativamente suas gerências nas pesquisas de ambiência. Diante de avaliações negativas, muitos gerentes ? pressionados pelos resultados ? reproduzem na forma de assédio e perseguição esta pressão.
Os dirigentes cobraram da companhia uma resposta firme sobre esses casos, que não são isolados. É preciso garantir que os trabalhadores tenham plena liberdade para opinar sobre a realidade dos seus respectivos setores, sem retaliações.
Reflexo deste caso e de muitos outros, a FNP também reivindicou o levantamento do número de trabalhadores acometidos por doenças relacionadas ao trabalho, como stress e outros distúrbios. Os dirigentes ressaltaram que este estudo não deve ser estritamente estatístico. É preciso que a empresa divulgue como está atuando sobre os temas que envolvem doenças ocupacionais. Afinal, a Petrobrás reflete a cultura de disputa e acirramento profissional que domina o mercado de trabalho, com suas metas, gerenciamento de desempenho e outras ferramentas de avaliação.
A companhia se comprometeu a responder todos os questionamentos e cobranças levantadas, mas ao mesmo tempo já deu respostas sobre alguns temas abordados. Outros, relatados na mesa, serão detalhados pelos sindicatos e enviados posteriormente para que os setores responsáveis deem um retorno.
Sobre a questão de doença ocupacional, a empresa reconheceu a necessidade de periodicamente abordar o tema. Em relação à pressão exercida pelos gerentes diante de resultados negativos em pesquisas de ambiência, afirmou que a direção da companhia colocou em prática um plano de ação para analisar de perto a atuação de diretores e gerentes. A FNP considera esta ferramenta insuficiente, pois atualmente ela é justamente um dos elementos que estimulam a reprodução em cadeia da pressão gerencial sobre os trabalhadores. É necessário, mais do que isso, reconhecer categoricamente o caráter perverso desta postura, bem com sua existência.