Aumento real e fim dos leilões: as ruas mostram, é possível conquistar!

A mesa ?Visões sobre as campanhas reivindicatórias e salariais? gerou amplos debates entre os congressistas e teve ainda um importante aporte: a participação de Daniel Romero, do ILAESE (Instituto Latinoamericano de Estudos Socioeconômicos), que trouxe alguns dados relevantes sobre a Petrobrás.

Como não poderia ser diferente, a mesa também abordou as manifestações que varrem o país, pois podem e devem afetar diretamente na dinâmica da campanha reivindicatória deste ano. Não por acaso, Daniel relembrou o clima e perspectivas do 6º Congresso Nacional da FNP, realizado no ano passado em uma conjuntura completamente diferente.

?Em 2012 iniciei minha fala com a seguinte pergunta: como será o mundo daqui a cinco anos? E finalizei perguntando se seria possível uma greve geral ainda no governo Dilma. Muitos, inclusive eu, responderam que isso seria muito difícil ou impossível de acontecer. Mas há duas semanas a situação no país mudou. Agora devemos nos perguntar como será o Brasil nos próximos meses. Os próximos meses serão decisivos para os rumos dos próximos 40 e 50 anos?.

Reafirmando diversas falas durante todo o congresso, Daniel defendeu a construção do dia 11 de julho com a perspectiva de inaugurar uma nova forma de ?tocar? as campanhas reivindicatórias. ?É preciso mudar a rotina dos sindicatos e construir uma campanha salarial diferente, ousada. Além da grande possibilidade de conquistar melhores salários e condições de trabalho, é possível barrar os leilões do petróleo, levando para as ruas a campanha O Petróleo Tem que Ser Nosso, envolvendo as entidades sindicais, o movimento estudantil, os movimentos sociais e a população mobilizada. O ILAESE acredita que esse ano é possível neste ano fazer uma greve a exemplo da grande greve de 1995?.

Em relação à campanha salarial, Daniel tem uma opinião muito clara sobre a principal manobra da empresa para tentar derrotar a categoria. ?A primeira coisa que a Petrobrás vai apresentar é a redução do lucro da Petrobrás, que fechou 2012 com um lucro líquido de R$ 21,1 bilhões – uma queda de 36% em relação ao de 2011. Mas é importante ressaltar que o governo Dilma, só no ano passado, em desoneração fiscal para o grande capital, deixou de arrecadar 42 bilhões de reais. O valor das operações contratadas pelo grupo de Eike Batista com o BNDES somam R$ 10,4 bilhões?.

Porque o lucro da Petrobrás diminuiu?
O argumento oficial da Petrobrás para a queda tem alguns elementos, dentre eles o suposto aumento na folha de pagamento, diante do aumento no número do quadro efetivo e terceirizados. No entanto, também houve um aumento da produtividade, ou seja, da força de trabalho. Para se ter uma ideia, cada trabalhador contratado a Petrobrás conseguiu retirar R$ 35 mil.

Lembrando que o Brasil não é autossuficiente na produção de energia, Daniel argumenta que, caso o país retome o crescimento e a Petrobrás tenha um salto nas suas vendas de combustíveis para satisfazer o mercado interno (na medida em que ela não tem capacidade para suprir essa demanda), a empresa vai ter que importar.

Ou seja, se a Petrobrás tem um aumento no número da venda de combustíveis ela acaba tendo prejuízo, ao invés de lucro. ?O que se mostra uma grande contradição, pois a Petrobrás não tem condições de suprir essa demanda. E a resposta da Petrobrás a essa realidade tem sido penalizar os trabalhadores: decréscimo na quantidade de primeirizados, aumento da terceirização, desinvestimento, que causa acidentes de trabalho, pressão e insegurança, leilões e venda de ativos?.

Para Daniel existem dois fatores para o dilema que se desenha para Dilma e Petrobrás no que se refere à queda nos lucros: em termos conjunturais, a política de juros altos e a valorização do dólar são responsáveis pela redução dos lucros da empresa; e por outro lado, as razões estruturais dessa crise são o fim do monopólio e os leilões do petróleo, que tornaram a empresa mais vulnerável e impedem que o Brasil seja auto-sustentável em petróleo.

As contradições da empresa
Se por um lado a companhia apresenta uma enxurrada de argumentos para justificar PLR rebaixada e aumento real zero, algumas informações expõem a contradição nas justificativas da Petrobrás. Afinal, ao mesmo tempo em que houve queda no percentual de PLR dos trabalhadores, em relação aos acionistas o que aconteceu foi o inverso na última negociação.

O mesmo pode-se falar em relação ao decréscimo na quantidade de primeirizados, influenciada e alimentada ao mesmo tempo pelo aumento da terceirização. Um número concreto ampara a afirmação, muito comum no movimento sindical, de que sobram aos trabalhadores apenas as migalhas: em 2012, de toda a riqueza produzida pela Petrobrás, 87% foram distribuídos ao governo, banqueiros e empresários e apenas 13% foram destinados aos responsáveis por este patrimônio: os trabalhadores petroleiros.

Por fim, Daniel citou um dado que ? não por acaso ? causou indignação, risos irônicos e um certo alvoroço na plenária: o salário de um diretor executivo da Petrobrás é, em média, de R$ R$ 1.400,000,00 por ano.

Avaliação dos dirigentes da FNP
Os dirigentes da FNP também se manifestaram durante a plenária, apontando as prioridades da campanha reivindicatória. Clarckson Messias, do Sindipetro AL/SE, defendeu uma forte agitação da pauta reivindicatória nas portas das unidades. ?Devemos construir no dia 11 de julho uma grande manifestação, colocando nossas exigências específicas e mais gerais?.

Diante das mobilizações que tomaram conta das ruas, Agnelson Camilo, do Sindipetro-PA/AM/MA/AP, fez uma intervenção inflamada e otimista. ?Neste ano, a gente tem totais condições de construir uma campanha vitoriosa o suficiente para reintegrar Ana Paula, reintegrar Leninha, reintegrar todos os companheiros anistiados, a exemplo de Valter Bahia, que está aqui neste congresso. Fazemos um chamado a todas as oposições, principalmente aquelas que ainda não defendem a bandeira da FNP, que venham se juntar a nós no sentido de fortalecer essa ferramenta. Uma ferramenta que dirige hoje mais de 50% da categoria e tem sido eleita pela nas últimas eleições?.

Emanuel Cancella, do Sindipetro-RJ, lembrou que ?a nossa pauta é histórica, mas renovada todo ano, com um importante acúmulo daquilo que a gente reivindica. Vamos ainda aproveitar a paralisação do dia 11 para discutir com a categoria a construção de uma greve nacional em 22 de outubro?, se referindo à data do leilão do Campo do Libra.

Ademir Silva, do Sindipetro-SJC, pontuou como uma das prioridades a revisão do PCAC, definido por ele como um plano que já nasceu morto. Além disso, ressaltou a necessidade de unificar ativos, aposentados e pensionistas nesta campanha. ?Os ativos hoje serão aposentados amanhã e, por isso, unificar a categoria é estratégico neste momento?.

Rivaldo Ramos, ativista histórico do Sindipetro-LP, fez um importante apanhado histórico do que a categoria petroleira vem sofrendo deste a chegada do PT ao poder. ?Em 2003, quando a esperança venceu o medo com a entrada do Lula, tivemos na campanha reivindicatória o primeiro golpe do governo foi propor 15,5% para os inativos e mais três benefícios brutos, e 10,5% para os ativos, mais um nível. Não aceitamos esta proposta, porque não aceitamos discriminação?, lembrou.

Desde então, segundo Rivaldo, aposentados e pensionistas vêm sendo discriminados ?do começo ao fim?, sentimento compartilhado pelo conjunto da categoria. ?A empresa vem jogando desde o início do governo Lula propostas discriminatórias para dividir a categoria. Não podemos aceitar isso?.

Neste sentido, Rivaldo Ramos defendeu como eixos da campanha as seguintes reivindicações: aumento real no salário básico; fim da tabela congelada; novo PCAC; isonomia sem discriminação; garantia na cláusula 81, que trata de comissões de investigação, da presença dos dirigentes sindicais toda justa causa tem que ser discutida com dirigente sindical.

Está gostando do conteúdo? Compartilhe!

Share on facebook
Facebook
Share on twitter
Twitter
Share on linkedin
LinkedIn
Share on whatsapp
WhatsApp