O que temos a aprender com a greve dos garis? Lutar vale a pena!

Uma das categorias mais precarizadas do país, com jornadas de trabalho extenuantes e salários de fome, nos deu uma grande lição neste ano: lutar vale a pena. Todos os brasileiros puderam acompanhar pela tevê, internet e jornais impressos do país a enorme batalha travada pelos garis do Rio de Janeiro por um acordo coletivo digno.

Os obstáculos não eram pequenos e nem poucos. Pela frente, a truculência do prefeito Eduardo Paes (PMDB) e dos patrões; um sindicato pelego, que durante toda a greve atuou em favor da empresa; as mentiras, invisibilidade e informações distorcidas da grande imprensa; e uma forte campanha das elites, que responsabilizavam os trabalhadores pelo caos causado em “pleno carnaval”. O prefeito chegou a chamar os grevistas de “marginais” e para garantir a “ordem” realizou demissões em massa e ordenou a volta ao trabalho com direito a escolta policial.

A tática usada pelos garis foi ousada: contra o descaso e a indiferença, usaram como recurso parar um serviço essencial na maior festa popular do país. E contrariando os prognósticos mais pessimistas e céticos possíveis, ao contrário de serem julgados e penalizados pela população, ganharam um amplo apoio popular. Em todos os atos realizados pelas ruas da Tijuca e do Centro carioca, ouviam palavras de apoio e aplausos.

Cabe ressaltar ainda a coragem e fibra desses trabalhadores, que além de se enfrentar com Paes e o sindicato pelego, tiveram ainda que passar por cima da Justiça. Isso porque no dia 1º o Tribunal Regional do Trabalho do Rio de Janeiro concedeu uma liminar determinando o retorno ao trabalho sob pena de multa diária de R$ 25 mil. Nada disso esmoreceu a brava luta de uma categoria há muito templo explorada de maneira desumana.

As conquistas
Após oito dias de greve, iniciada em pleno carnaval, os garis do Rio de Janeiro encerraram de maneira vitoriosa. Ao contrário dos 9% negociados unilateralmente pelo sindicato, sem o respaldo da base, os trabalhadores e sua auto-organização arrancaram de Paes e dos empresários um aumento do piso salarial de 37%. Com isso, o salário inicial passará de R$ 802 para R% 1.100. O vale-refeição também foi reajustado e passará de R$ 12 para R$ 20.

De quebra, os trabalhadores ainda conseguiram a suspensão de todas as demissões por justa causa realizadas como retaliação à greve. Diante disso, não há outra interpretação a ser feita: a greve dos garis cariocas é um exemplo de que quando o trabalhador vai à luta, há conquistas.

As lições
Antes de tudo é preciso dizer que esta mobilização não é um acaso do destino ou exemplo regional que não pode ser estendido a todo o país. Pelo contrário, sua existência se explica pela própria realidade que vive hoje o país: desde as jornadas de junho, que levou milhões às ruas, o povo tem sentido com cada vez mais força que é preciso lutar para conquistar direitos.

Com os garis não foi diferente. Para nós, petroleiros, as semelhanças com essa categoria não pode se resumir apenas à cor laranja do uniforme: é preciso seguir o exemplo desses trabalhadores, voltando a acreditar em nossas próprias forças e em nossa capacidade de mobilização.

Em um período em que os governistas assinam acordos com a Petrobrás por cima da base, sem uma ampla discussão com os trabalhadores, esta necessidade se faz urgente. Os garis demonstram, na prática, que substituir o principal instrumento da classe operária (a luta direta!) por acordos/armadilhas de cúpula é negar um dos principais DNA's do movimento operário combativo e independente. Seja antiga ou recente, seja de cem anos atrás ou de apenas algumas semanas atrás, a história nos dá uma lição categórica, sem margem para escapismos: nada é capaz de substituir a mobilização como principal ferramenta de conquista.

A onda laranja que derrubou a patronal e comoveu o país tem muito a nos ensinar.

Está gostando do conteúdo? Compartilhe!

Share on facebook
Facebook
Share on twitter
Twitter
Share on linkedin
LinkedIn
Share on whatsapp
WhatsApp