Vai ter Copa. Mas pra quem? A pergunta que os governistas não fazem

Alguns falam em ?legado da Copa?, frase propagada pelo Governo e reproduzida em larga escala por setores governistas. A FUP, por exemplo, nada fala das injustiças da Copa, adotando uma postura acrítica em relação aos abusos que permeiam o evento. Mais do que isso, fez questão de se transformar em correia de transmissão do governo na campanha para abafar as denúncias envolvendo as obras superfaturadas, as mortes de operários, a completa inversão de prioridades em investimentos.

Nenhuma linha sobre o papel nefasto da Fifa em nosso país, sobre o papel subserviente do governo diante de tantas exigências esdrúxulas de uma das entidades mais corruptas do Mundo. Em seu site, aliás, é disponibilizado para a categoria petroleira um vídeo do Governo Federal com os supostos benefícios gerados pelo evento.

Outros setores, no entanto, reivindicam que os investimentos em saúde e educação deveriam ser a prioridade do governo, que os gastos com a Copa são sim absurdos diante de tantas demandas pendentes. Torcer por um país mais justo, não é torcer contra o Brasil e nem contra a seleção brasileira. É exercer o direito de reivindicar melhores condições de vida. É neste campo que se posiciona a FNP.

Em nossa opinião, não é possível admitir que sob o pretexto de não ?ajudar a direita?, uma falsa polêmica lançada pelos governistas para justificar a sua omissão, nos calemos diante das ações arbitrárias da Lei Geral da Copa e não apoiemos as manifestações populares que sacodem o país justamente contra esse estado de coisas.

Evidentemente, uma parte dos partidos conservadores tenta pegar carona no movimento social organizado que está nas ruas protestando. Mas não são os ideais conservadores que estão sendo reivindicados pelos milhares de trabalhadores que estão nas ruas, de forma descentralizada, mas constante.

Grande parte da revolta é agravada por conta das ações implementadas pelos governos federal, estaduais e municipais para ?garantir? a realização da Copa do mundo. O país abriu mão de sua soberania para obedecer aos interesses da Fifa. O direito de livre circulação e o acesso à Justiça estão entre os direitos suspensos temporariamente pela Lei Geral da Copa, isso sem citar a escalada recente de criminalização das greves.

No caso da Copa, foi criado um tribunal exclusivo para julgar crimes acontecidos neste período. O espaço aéreo, terrestre, marítimo e fluvial é restrito nas 12 cidades que sediarão os jogos. São duras restrições de circulação nas ruas próximas aos estádios. No Rio, a Capitania dos Portos já está abordando embarcações, inclusive de pescadores, na Baía de Guanabara.

A Lei da Copa garantiu inclusive que determinados termos não podem ser usados por ninguém sob risco de três meses de prisão e/ou multa (?Brasil 2014?, ?samba? e ?Rio de Janeiro 2014? entre eles). Segundo o Comitê Popular da Copa, no mínimo 150 mil pessoas foram removidas para obras da Copa em diversos município do país.

Para a relatora da ONU e urbanista Raquel Rolnik, em recente entrevista, ?os procedimentos adotados durantes as remoções não correspondem ao marco internacional dos direitos humanos, que inclui o direito a moradia adequada, nem respeitam a forma como elas devem ocorrer. O direito à informação, à transparência e a participação direta dos atingidos na definição das alternativas e de intervenção sobre as suas comunidades não foi obedecido. As pessoas receberam compensações insuficientes para garantir seu direito à moradia adequada em outro local?.

No Rio de Janeiro, as ações arbitrárias geraram conflitos não apenas em áreas de moradia. A tentativa do governo Cabral/Pezão de colocar abaixo o antigo Museu do Índio, a Escola Municipal Friedenreich e o Parque Aquático Julio de Lamare geraram revolta de diversos setores da sociedade e após diversos conflitos conseguiram seu tombamento e se mantém em pé.

Empolgados com as manifestações iniciadas há cerca de um ano, diversas categorias de trabalhadores resolveram ir às ruas, muitas à revelia de seus sindicatos, cobrando condições dignas de trabalho. A insatisfação de grande parte da sociedade tem relação direta com o modelo de desenvolvimento econômico, que apesar de ter possibilitado em anos recentes o acesso ao consumo de novas parcelas sociais, não resolveu questões como inclusão social de fato, o direito à cidade e aos serviços públicos de qualidade.

A resposta dos governos às críticas tem sido intensificar a repressão tentando sufocar um direito básico das democracias que é o direito de manifestação e reivindicação. O estado de exceção promovido pelo governo Dilma começa a mostrar suas consequências como a queda de popularidade da presidente.

CLIMA DE GUERRA
No Rio de Janeiro, só a Polícia Militar vai garantir oito mil soldados nas ruas, grande parte deles recém formados em 2014 pelo Centro de Formação e Aperfeiçoamento de Praças. Isso além do contingente da Marinha, Aeronáutica e Exército. As Forças Armadas colocarão 57 mil nas ruas, sendo 35 mil do Exército, 13 mil da Marinha e 9 mil da Aeronáutica.

Os movimentos de trabalhadores estão sendo violentamente reprimidos. Em São Paulo, na semana passada um estudante que participava de um ato de apoio aos metroviários foi preso e torturado pela PM por exercer seu direito de manifestação. No Rio de Janeiro, na véspera do jogo de abertura, ativistas foram ?presos para esclarecimentos?. Ações semelhantes aconteceram em outras cidades.

A tentativa de intimidação de militantes dos movimentos está tendo como consequência o aumento da revolta popular. Diversas manifestações e greves já estão marcadas e tenta-se, em vão, conter as manifestações de indignação para que não repercutam em ano eleitoral.

O governo Dilma, que já demonstrou que despreza a soberania brasileira ao realizar os leilões do petróleo, colocou sua reputação em risco ao defender os interesses da Fifa sobre os interesses do povo. E quem sofre as consequências são os brasileiros.

Editorial do Sindipetro-RJ, com informações da FNP

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