Na briga de versões sobre a produtividade da Petrobrás, categoria é quem perde

Quase todos os dias a imprensa inunda o noticiário com informações depreciativas sobre a Petrobrás. Sabemos que por trás dessas reportagens existe o interesse velado de defender a privatização da companhia. Afinal, esse sempre foi o desejo histórico da grande mídia.

Recentemente, o Estadão publicou matéria sob o título ?Petrobrás está sob pressão para elevar produção? na qual sugere uma crise na empresa por não apresentar condições de atingir sua meta de produtividade. ?A meta repetida como um mantra da empresa é crescer 7,5% neste ano. Passado cinco meses, contudo, a média não passa de 0,1% no período?, informa o texto, que curiosamente apresenta como principal fonte o consultor da candidatura de Aécio Neves (PSDB), Adriano Pires.

Em contrapartida, a Petrobrás apresenta números positivos, com recordes e crescimento na produção. Em resposta ao jornal, no blog Fatos e Dados, a empresa afirma que ?está mantida a meta de produção de petróleo para este ano estabelecida em seu atual Plano de Negócios e Gestão (?) A reportagem ignora o fato de que as plataformas que entraram em operação este ano e no ano passado irão atingir, nos próximos meses, elevados índices de produção, à medida que novos poços produtores forem interligados. Há, ainda, três novas unidades produtoras que vão entrar em operação em 2014, garantindo o crescimento sustentável da produção?.

Essa não é a primeira vez e, provavelmente, não será a última em que imprensa e empresa apresentam números e avaliações distintas sobre um mesmo fato ? a polêmica em torno da produtividade expressa essas diferenças.

Nesse ?leva e traz? de informações, o mercado, com seu ?mau humor? rotineiro, tem rebaixado os valores das ações da Petrobrás e faz pressão sobre a estatal por números econômicos mais expressivos. Pressionada, a direção da empresa por sua vez cobra do petroleiro uma extenuante jornada de trabalho ? acompanhada da redução do quadro mínimo e aumento de horas extras e dobras. Os trabalhadores terceirizados, sem treinamentos e condições de trabalho adequados, são os que mais sofrem com frequentes acidentes.

Categoria no fogo cruzado
Mais do que buscar com quem está a verdade sobre os números de produtividade, a principal reflexão que cabe aos petroleiros é: para quem vai os lucros obtidos com os recordes? Quem são os beneficiados? A verdade é que, independentemente das metas atingidas, o trabalhador sempre sai perdendo.

Basta notar que a produtividade não vem sendo revertida em valorização salarial, melhoria nas condições de trabalho e, muito menos, na aplicação de investimentos sociais no país ? medidas que, certamente, seriam possíveis em uma empresa de fato estatal.

Evidentemente, é mais do que legítimo que todo petroleiro se orgulhe de trabalhar na maior empresa do país e de ser o responsável por aumentar a produtividade da companhia. No entanto, de nada vale para a classe trabalhadora recordes e mais recordes se eles estão a serviço do ?bom humor? do mercado. Ou seja, a serviço dos grandes acionistas e especuladores.

Para nós, não é coincidência os 17 anos sem aumento real, a queda no valor da PLR e a sensação cada vez maior de insegurança nas unidades de produção. É uma resposta da empresa e do governo federal às sucessivas exigências do mercado e da imprensa por mais produção, por mais lucro ? custe o que custar.

Por que lutar por uma Petrobrás 100% Estatal
Em nossa opinião, nada disso mudará sem a aplicação de nossa bandeira histórica por uma Petrobrás 100% Estatal e Pública, a serviço do povo brasileiro. Desde a quebra do monopólio da estatal, em 1997, feita pelo então presidente Fernando Henrique Cardoso, a Petrobrás passou a ter suas ações negociadas na bolsa de Nova Iorque e rezar a cartilha do mercado.

Hoje, o preço do petróleo sobe e desce ao ritmo da vontade das ?big oil?, que em busca de lucros exorbitantes desrespeitam as regras do próprio mercado. Entre outros fatores esse aumento provoca encarecimento do frete do transporte e de produtos como alimentos, o que colabora com a inflação, que recai diretamente no bolso do trabalhador. Uma Petrobrás estatal, por exemplo, poderia baratear o transporte, o gás de cozinha e até mesmo os alimentos se a produção estivesse de fato nas mãos do Estado, uma vez que os preços dos derivados estariam sob o controle do Governo Federal e não das regras do mercado financeiro.

Muitos trabalhadores poderiam nos contrariar, dizendo: ?mas a Petrobrás é controlada pelo Governo!?. No entanto, essa é uma meia verdade porque este ?controle? é exercido para (e em nome) do capital internacional. Mais de 60% das ações da empresa estão em mãos privadas, sendo que cerca de 40% estão diretamente nas mãos do capital estrangeiro.

Diante desses números, não é difícil descobrir para quem é revertida a produtividade da empresa. Isso explica, por exemplo, a insistência da imprensa em exigir cada vez mais produção. Quanto maior a produção, maior o lucro dos acionistas e menores os benefícios à categoria e ao povo brasileiro.

Sendo responsável pela produção da empresa, o petroleiro deveria ser ouvido pela companhia e opinar em suas decisões, inclusive sendo parte ativa dos seus planos estratégicos. Hoje, a realidade é que o trabalhador tem como única função gerar lucro para os acionistas.

Enquanto o Governo Federal mantiver a política de privatização velada da Petrobrás, não só os trabalhadores serão prejudicados, mas principalmente o país. A empresa que hoje é responsável por financiar mais da metade das obras do PAC teria totais condições de contribuir decisivamente para o resgate da soberania nacional com a aplicação da riqueza do petróleo naquilo que é essencial para o povo brasileiro: saúde, educação, moradia e transporte públicos e de qualidade.

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