A Petrobrás construiu, em 61 anos, uma rede de dutos que interliga a maior parte do Brasil. Esses dutos levam derivados de petróleo e, provavelmente, não poderiam conduzir a água. Mas acredito que é possível utilizar essa malha para levar água a regiões desabastecidas.
Por Emanuel Cancella*
Em princípio, para a utilização dessa malha, não haveria necessidade de desapropriações, licenças ambientais, estudos para posicionamento de linhas. Além disso, como medida paliativa à falta d?água, a Petrobrás também poderia ceder sondas para furar poços artesianos gigantes, em municípios onde a situação é mais crítica.
O Centro de Pesquisas da Petrobrás (Cenpes) teria grande contribuição a dar, na busca de soluções para a crise de abastecimento de água que, parece, veio para ficar.
A Petrobrás desenvolveu tecnologia inédita no mundo, propiciando a descoberta do pré-sal e multiplicando as reservas nacionais. Saltamos de 14 bilhões de barris para algo em torno de 60 bi já comprovados, depois do pré-sal.
No Brasil, como na maioria dos países, predomina o petróleo como principal matriz energética. Uma das lutas da campanha do petróleo, promovida pelo Sindipetro-RJ e outros sindicatos, movimentos sociais e partidos políticos, é por investimentos na pesquisa de energias alternativas e menos poluentes.
Defendemos que, com o dinheiro do petróleo, o Brasil também financie as chamadas energias limpas e perenes, já que as reservas de petróleo do planeta deverão se esgotar, no máximo, nos próximos 50 anos. Aliás, essa é uma proposta que só será viabilidade, a manter-se o controle estatal da empresa.
Da mesma forma, é o compromisso com o desenvolvimento da nação e não apenas com o lucro imediato, papel que pode ser cobrado das estatais, o fator que viabiliza a utilização da malha construída pela empresa para contribuir na solução da crise hídrica.
Quem se lembra da crise energética ocorrida em 2001? O país chegou ao racionamento de energia. Havia energia sobrando em certa região do Brasil, enquanto em outra aconteciam os ?apagões?. Uma das saídas foi aumentar a oferta de energia. Mas também foi necessária a construção de torres de transmissão que interligam as regiões brasileiras.
Fica a sugestão: a rede de dutos da Petrobrás, que interliga a maior parte do Brasil, pode ser de grande utilidade nesse momento, no caso da busca de soluções para a crise hídrica, com o auxílio de nossos tarimbados cientistas e pesquisadores.
* Emanuel Cancella é diretor do Sindipetro-RJ e da Federação Nacional dos Petroleiros (FNP).
Publicado originalmente na Agência Petroleira de Notícias.