Na sexta-feira, 28/12, em torno de 4h, uma linha furou e espalhou gás pela estação de Siriri. Os operadores buscaram sanar o problema, mas as medidas não foram suficientes. Pela manhã o gerente resolveu parar o campo e o serviço que estava sendo realizado pelos trabalhadores da Conenge.
Aragão, diretor do Sindipetro AL/SE , explica que a linha interligava o tratador de óleo ao separador de óleo/PSO-1. Os tratadores foram desativados e a linha manteve pressurizada ao separador/SO-1. Desse jeito a válvula deu passagem de gás para esta linha. Quando a desativaram, a válvula deveria ter sido raquetiada.
Gilvani Alves, também diretora do sindicato alerta, ?se fosse horário de trabalho e tivesse atividade próxima, poderia ter sido fatal. Tantos acidentes, em tão pouco tempo, pode ser o anúncio de uma grande tragédia. O Sindipetro AL/SE tem dado batalha e pressionado a Petrobrás para que a segurança seja prioridade. Porém, para a empresa esse problema está em segundo plano. Tudo demonstra que a única preocupação da alta gestão da Petrobrás, assim como do governo, infelizmente, é garantir muito lucro para seus grandes acionistas privados, as gatas terceirizadas, as empreiteiras e os bancos?.
O gás que vazou
O gás da estação de SZ é o mesmo que está presente em todo o campo de petróleo de Carmópolis. É o gás sulfídrico (H2S), popularmente conhecido como ?peido de bactérias?, com odor de ovo podre. Cada pessoa tem suscetibilidade diferente em relação ao limite da concentração de H2S no ambiente. Ele é capaz de paralisar por completo as vias respiratórias, levando à morte.
Fatal para os trabalhadores: privatização, corrupção e desinvestimento
Toda essa insegurança generalizada nas linhas de transporte de fluídos é o efeito do desinvestimento que passou a ser prática intensificada da companhia a partir de 2012. A Petrobras anunciou no final de outubro de 2012: ?Vamos fazer o desinvestimento para contrair menos dívida, ir menos ao mercado financeiro. Com investimento tão alto não dá para atender a demanda total por recursos financeiros?, comentou Graça Foster ao se referir ao plano de negócios 2012-2016 de 236,5 bilhões de dólares.
?Destes 236,5 bilhões de dólares foram disponibilizados para a construção de refinarias no Brasil US$ 64 bilhões de dólares?, explica Dalton, geólogo aposentado da Petrobrás e diretor do Sindipetro AL/SE. ?Hoje a construção de uma refinaria do padrão Abreu e Lima, cuja capacidade de refino é de 230 mil barris de petróleo ao dia, custa, no máximo, US$ 8 bilhões de dólares. Ou seja, com 64 bilhões de dólares, poderia ser construída oito refinarias do padrão Abreu e Lima no Brasil. Cadê essas refinarias?”, questiona.
Agora, com a explosão dos escândalos de corrupção, ficou demonstrado que, por trás de toda essa política de redução de custos, bilhões de dólares são desviados para favorecer empreiteiras, bancos e grandes investidores privados. Só do que foi revelado na operação Lava Jato, da Polícia Federal, apareceram R$ 59 bilhões de rais em contratos superfaturados entre Petrobrás e empreiteiras.
16 mortes de petroleiros
Esse vazamento de gás e todos os outros acidentes que têm ocorrido, somando a morte de 16 petroleiros neste ano, entre próprios e terceiros nacionalmente, mostra na prática quem sofre as consequências fatais dessa roubalheira toda que envolve a política de privatização.
Além dos trabalhadores, a população em geral também sofre com os impactos desses acidentes no meio ambiente. No caso desse último acidente, é impactada toda a extensão do campo terrestre de Carmópolis, incluindo a área de Siriri, que é parte integrante dessa estrutura geológica gigante existente no Alto de Aracaju,
Acidente ou negligência?
Podemos considerar acidente, quando as causas deste são alertadas antes que ele aconteça, porém não são tomadas as providências necessárias? Como a maioria dos acidentes na Petrobrás, o que de fato acontece é uma negligência total com a segurança.
Nesse vazamento de gás na estação de Siriri, junto com o desinvestimento, outro elemento de destaque foi a carência de fiscalização adequada. ?Isso, desde quando estava sendo assentada a tubulação de fibra de vidro, para servir também de transporte de fluídos do campo de petróleo de Carmópolis?, informa Dalton.
Segundo o geólogo, “na época deste assentamento, várias comunicações feitas pelo Sindipetro AL/SE foram transmitidas ao setor jurídico e à gerência geral de contratos da antiga Unidade Operacional de Sergipe e Alagoas na Comissão de Terceirização. Infelizmente, nenhuma importância foi dada a essa situação perigosa prevista pelo Sindipetro AL/SE”. O resultado dessa ?insegurança generalizada nas linhas de transporte de fluídos? está sendo constatado agora.
Dalton explica que, de fato, “o que aconteceu foi descumprimento das normas eficientes e adequadas para o assentamento da tubulação de fibra de vidro por parte da empreiteira responsável pela prestação daquele serviço. Na verdade, o colchão no qual é deitada essa tubulação deveria ser constituído de uma camada de areia cuja granulometria é a mais homogênea possível, e este produto existe no mercado para isso”.
Isso era exigência do contrato da Petrobras com a empreiteira. Mas, para dar cano na Petrobrás, a empreiteira descumpriu o procedimento contratual exigido, e assentou a tubulação num colchão constituído de areia com granulometria heterogênea, retirada dos arenitos friáveis do próprio campo de Carmópolis. Assim, o ?acidente? aconteceu por falta de fiscalização e negligência da empresa.
Fonte: Sindipetro-AL/SE ? 04/12/2014.