Urucu à mercê da política da Petrobrás

A Federação Nacional dos Petroleiros (FNP) resolveu investigar a realidades por trás da política de prevênção da Petrobrás contra o COVID-19 nas bases da FNP. Para tal, está entrevistado trabalhadores, cujos os nomes não serão revelados como medida de proteção e contra retaliação da gerência.

Nossa primeira entrevista é com um trabalhador de Urucu, em que revela o drama que estão vivendo na região em meio ao risco de acidentes e contaminações.

Noentanto, os fatos não são novidades. O Sindipetro-PA/AM/MA/AP já havia denunciado a realidade que os profissionais estão vivendo na área.

Agora, leia a entrevista na íntegra:

FNP – Durante esse período de pandemia, qual é a realidade na Província Petrolífera de Urucu?
Petroleiro – Tralhamos sobre regime de confinamento, 14×21. Estamos há 675 km de distância da base urbana mais próxima. É uma distância até maior do que a enfrentada pelas plataformas. A realidade do Campo é que, entre o dia 4 e o dia 5 de abril, começaram a aparecer muitos trabalhadores infectados. Nesse período começaram o procedimento de confinamento, colocando uma pessoa por quanto, enquanto o normal eram 4 pessoas por quarto. 

Até o momento que estávamos com apenas com suspeitas, a empresa começou a reduzir o contingente. O contingente embarcado, aonde trabalho, é de cerca de mil pessoas e foi reduzido, gradualmente, até chegar a 500 pessoas. Essa redução demorou um pouco para acontecer. 

Mesmo com todas as recomendações, as pessoas se aglomeravam, todas trabalhando numa mesma unidade. Apesar da companhia, na época, já orientar evitar reuniões com mais de 20 pessoas na mesma sala. As reuniões da equipe de manutenção passavam disso, numa mesma sala. Eram coisas que pontuávamos e a gerência da unidade dizia que o risco de o maquinário ficar parado era muito pior do que uma infecção.

FNP – Há muitos trabalhadores infectados pelo Covid-19 trabalhando nas plataformas?
Petroleiro – No dia 25 de maio, mais ou menos 25 dias após o primeiro caso confirmado em Urucu, eu já havia perdido as contas de quantos amigos estavam infectados pelo COVID-19. Até onde acompanhei já eram cerca 50 pessoas doentes e embarcadas. Isso, entre próprios e contratadas. Tivemos casos fatais de pessoas que estavam desembarcadas. Em seguida, a situação piorou. Médicos e enfermeiros confirmaram que estavam sobrecarregados por causa da grande quantidade de infectados, da grande quantidade de trabalhadores tombando, ficando doentes.

FNP – Quais os trabalhadores estão sendo mais infectados, próprios ou terceirizados?
Petroleiro – Eu não sei lhe responder, mas, é importante ressaltar que existem mais terceirizados do que próprios em Urucu. Eu acredito que cerca de 80% dos infectados sejam terceirizados.

Mas, o que mais me preocupa é em relação a tratamento e tratativa dos que são infectados, porque eu enxergo que nós, próprios, ainda temos plano de saúde, mesmo com todos os problemas, pelos menos temos. A questão dos terceirizados é mais complicada. Não são todas as empresas que oferecem plano de saúde.

Para você ter uma ideia, o prefeito do município de Carauari, localizado no interior do estado do Amazonas, Região Norte do Brasil, quem tem poucos recursos na área de saúde, chegou a ameaçar a processar a Petrobrás porque estavam aparecendo casos do coronavírus na cidade e uma das possibilidades desse contágio estava de dando pela contaminação em Urucu. Petrobrás estaria liberando trabalhadores infectados a voltarem para esta cidade, aonde só moram terceirizados. E isso demandaria um risco para a cidade.

Estou falando de uma cidade que não tem estradas para se chegar até ela. Você só pode chegar pelo rio ou de forma aérea. Então, é uma situação de tratativa deficiente que chega a impactar o sistema público de saúde.

Por isso, não tem como negar que existem diferenças na tratativa entre os trabalhadores próprios e os terceirizados.

FNP – Petrobrás afirma para a imprensa que está fazendo testes e distribuído máscaras aos seus funcionários. Isso é verdade¿ Há diferença de tratamento dado entre os trabalhadores próprios e os terceirizados?
Petroleiro – Os testes começaram a acontecer tardiamente, a partir da última semana de abril, tanto com trabaljhadores próprios como com os terceirizados. Mas, até onde eu sei, o teste que estava sendo feito era o teste rápido, em que a taxa de confiabilidade não é tão alta. além disso, até o dia 1º de abril, o uso de máscara não era obrigatório. As máscaras que estavam distribuindo eram aquelas com material orgânico. Atualmente, alguns trabalhadores próprios estão usando. Eu não sei lhe dizer se os terceirizados estão usando também.

FNP – Quais as condições de trabalho de vocês?
Petroleiro – Trabalhamos sob muitos riscos como risco elétrico, atmosférica explosiva, altura, altas temperaturas, regime sobreaviso que por si só já causa pressão, armazenamento de energia, tanto elétrica quanto pneumática e etc. Não dá para negar que nós temos em condições inseguras de trabalho, apesar da empresa fornece todo o equipamento individual de proteção exigido por lei.

O que existe é a irresponsabilidade criada por gerentes e coordenadores. Recentemente, em Urucu, por exemplo, um equipamento central, um turbo-expansor quebrou e para recuperá-lo, outros seis equipamentos tiveram que ser parados. Então, aquela unidade foi parada e o serviço foi feito e levou entre 4 e 5 dias. No entanto, o coordenado, na pressa de voltar logo com o equipamento ao trabalho, pulou algumas etapas de segurança, etapas de liberação. Esse comportamento dele acabou fazendo com que os trabalhadores retornassem ao trabalho com vazamento de gás, sem o conhecimento da equipe de manutenção de Urucu. Ainda bem que nada aconteceu. 

FNP – Gostaria de acrescentar alguma coisa?
Petroleiro –
Eu fico feliz que muitos amigos já terem se recuperado e tenho esperança de que vamos vencer essa situação. 

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